este momento de júbilo e plena alegria em que
comemoramos o primeiro centenário de nossa organização, devemos
reverenciar os feitos que alcançamos, com ênfase destacada para o Polio
Plus, agora em sua fase final. No entanto, não podemos viver apenas dos
louros alcançados, cabendo-nos a pergunta: em seu segundo século, o que
será do Rotary ? Para alguns, a resposta é simples:
vamos festejar os sucessos alcançados até aqui, nos deixando envolver pela
magia das glórias do passado – e esquecendo as palavras de nosso fundador.
Essa é um posição cômoda, mas verdadeiramente suicida, que nos levaria,
sem dúvida alguma, ao lamentável fim a que tantas outras organizações se
viram lançadas.
As origens do
plano Para compreendermos a posição adotada
pelo Rotary International ao propor o estudo e a adoção de um plano
estratégico para a organização, devemos lembrar que algumas das decisões
tomadas por nós ao longo dos anos não foram capazes de nos assegurar um
segundo século tão alvissareiro e pródigo como o primeiro. Por isso,
pensar no futuro do Rotary sempre foi uma das vocações de seus dirigentes,
não podendo ser esquecidos os momentos em que essa preocupação ficou
bastante clara, como o ano rotário 1981-82, quando foi criada a Comissão
de Novos Horizontes – sem esquecer outras iniciativas, como a Comissão
pela Construção do Futuro e a Comissão dos Sonhos Rotários, todas trazendo
em seu âmago a preocupação profeticamente lançada por Paul Harris a que
fiz referência. Finalmente, em 1999-00 o Conselho
Diretor do RI tomou a decisão histórica e definitiva de instituir e nomear
a Comissão de Planejamento Estratégico, com a missão de estudar o
desenvolvimento e a implementação de um plano de metas para a organização,
de abrangência bastante ampla, e com o objetivo de criar “ferramentas que
permitirão proporcionar a continuidade do trabalho do Rotary”, como
afirmou o nosso atual presidente, Glenn E. Estess Sr., na edição de abril
de 2004 da BR. Nasceu desta decisão a Proposta de Resolução nº 04/219,
apresentada pelo board ao Conselho de Legislação de Chicago em junho do
ano passado, e que se transformou em uma resolução aprovada pelo
plenário.
Motivações
Destacarei as três grandes “causas” de nosso plano
estratégico – que, diga-se de passagem, não representam novidade ao
rotariano mais atento. A primeira delas decorre da
necessidade de efetivarmos uma revisão na estratégia de recrutamento dos
novos associados, assunto sobre o qual já me manifestei na Brasil
Rotário por mais de uma vez, através de artigos [N.E.: “Por que
crescer?”, edição de janeiro de 2001]. A segunda
causa é a necessidade de mudarmos a imagem do Rotary, o que também
significa mostrar a todos a sua verdadeira imagem – e destacar, em
particular, que esta não é uma organização norte-americana, mas uma
organização global, pertencente ao mundo. Vale lembrar que, hoje em dia,
mais de dois terços dos associados do Rotary International são de fora dos
EUA, o que prova a sua verdadeira
internacionalidade. A terceira e última causa,
nitidamente relacionada à organização interna do RI, mas tão importante
como as duas anteriores, é a necessidade de revisão da estrutura das
governadorias. Mas por que as governadorias? A resposta me parece simples:
são nelas que repousam e sedimentam-se as bases de administração e
prestação de serviços do Rotary, e é através delas – e de acordo com sua
atuação – que os clubes se dedicam a trabalhar mais ou menos junto às
comunidades. Naturalmente, tudo que é novo – ou que
pretende questionar e modificar regras e procedimentos consolidados –
desperta restrições e reações a sua aceitação. Em relação a essa questão,
vale a pena dar ênfase às declarações feitas na Brasil Rotário de outubro
de 2003 pelo EPRI Bill Huntley, coordenador 2002-03 da Comissão para o
Planejamento Estratégico do RI: “Existem instâncias e patamares
hierárquicos no Rotary que podem se transformar em torres de cristal.”
Portanto, essas reações são naturais, já que um
século não são 100 dias nem 100 horas – e lembrando sempre que, na
verdade, o Rotary não foi idealizado e criado para durar apenas 100
anos.
Metas e
objetivos O Plano Estratégico fixou sete
metas, com um total de 23 objetivos – que poderiam multiplicar-se em
outros tantos, mas com o risco de perderem os seus enfoques principais.
Vale destacar que a comissão responsável pelo estudo e pela elaboração do
plano deixou de lado os sonhos e devaneios para cuidar, efetivamente,
daqueles que lhe pareceram ser os pontos principais para o futuro de nossa
organização – e para essa tarefa foram utilizados dados estatísticos e a
assessoria profissional de um empresa especializada, sempre com o suporte
e o apoio da secretaria-geral do RI. Ao longo deste
artigo realizarei um exame básico das sete metas estabelecidas pelo Plano
Estratégico e destacar os objetivos que, em minha opinião, pareceram os de
maior relevância.
Primeira meta:
erradicação da poliomielite Considerando-se
os valores monetários e o trabalho voluntário empregados no Programa Polio
Plus nestas últimas duas décadas, é natural que esta seja a primeira meta
do plano. Além disso, segundo dados recentes da Organização Mundial da
Saúde, a paralisia infantil ainda é endêmica em apenas seis países:
Afeganistão, Egito, Índia, Níger, Nigéria e Paquistão.
Objetivos:
1. Encontrar o financiamento e os
recursos humanos necessários para completar o trabalho de erradicação da
pólio assumido pela Fundação Rotária e seus
parceiros. 2. Participar das
estratégias mundiais voltadas à obtenção do certificado de erradicação o
mais rapidamente possível. 3.
Divulgar entre o público em geral e também entre os rotarianos a
importância da participação de nossa organização nos esforços de
erradicação da pólio. Dentre todos esses objetivos,
destaca-se o primeiro: mais de 2 bilhões de crianças já foram vacinadas em
todo o mundo; 122 países foram considerados excluídos do ciclo endêmico da
doença; os rotarianos arrecadaram e aplicaram mais de US$ 600 milhões no
Polio Plus, programa que teve a adesão de inúmeros parceiros
governamentais e
não-governamentais.
Segunda
meta: dar mais enfoque ao Programa do
Rotary Por causa de uma formação que podemos
considerar histórica, e por seu compromisso de prestar serviços
humanitários, sedimentou-se em todos os níveis do Rotary a seguinte
prática, particularmente por orientação dos presidentes do RI e dos Rotary
Clubs: os programas deveriam ter a duração de um ano rotário. Como
resultado, e apesar dos elevados recursos aplicados, diversos desses
programas tiveram uma duração efêmera, sem a desejada e necessária
continuidade. Somente a partir da Campanha Polio Plus ficou claro o quanto
e como eram dispersados, anualmente, tão altos valores – humanos e
monetários. Com a implantação desta meta, será dada
maior solidez e objetividade ao Programa do Rotary, que não se limitará
mais a um ano.
Objetivos:
1. Estabelecer um procedimento que
permita a identificação, o desenvolvimento, implementação e avaliação de
um programa de prestação de serviços de vários anos de duração, a ser
ratificado por cada Conselho de Legislação; e eliminar a troca anual de
prioridades indicadas pelo presidente ou pelo Conselho Diretor do
RI. 2. Dar enfoque aos trabalhos que
unam os clubes em seus esforços, oferecendo-lhes a oportunidade,
flexibilidade e o incentivo necessários para atender às carências de suas
comunidades. 3. Colaborar com outras
organizações com o intuito de alcançarmos nossos
objetivos. Destaco o primeiro destes
objetivos. Quantos de nós conseguem lembrar do programa estabelecido no
ano em que foram presidentes de clube ou governadores? A partir de agora,
todo o mundo rotário estará voltado para um só programa, pelo menos até
que ele seja concluído com o esperado êxito. Para tanto, serão observadas
as naturais peculiaridades locais, que justificarão os necessários ajustes
– mas sempre dentro de uma linha de atuação previamente estudada e
aprovada pelo Conselho de Legislação do RI.
Terceira meta: escolher
o próximo programa corporativo Como
conseqüência dos sucessos de nossa bem-sucedida experiência com o Polio
Plus, já em fase final de execução – e que certamente suportou as naturais
críticas daqueles que ainda hoje se instalam nas “torres de cristal” a que
se referiu o EPRI Bill Huntley – o Plano Estratégico propõe uma consulta
prévia mais ampla quanto ao rumo que vamos seguir daqui em diante. Sendo
este um campo tão diversificado, esta escolha vai depender da necessária
aprovação do Conselho de Legislação.
Objetivos:
1. Desenvolver os critérios para a
seleção de um futuro programa de grande âmbito – e os aspectos necessários
para medir seu sucesso. 2.
Desenvolver um procedimento para identificar o próximo programa de grande
âmbito. 3. Criar um plano para que
seja possível obter o apoio da organização ao programa de grande âmbito
que for selecionado. O primeiro objetivo desta meta é um
dos que têm mais destaque em todo o Plano Estratégico por reduzir a
influência pessoal de eventuais dirigentes e desenvolver uma noção mais
associativa de nossa organização, considerando que todos os seus segmentos
devem ser ouvidos e podem opinar, cabendo ao Conselho de Legislação do RI
a decisão final sobre o nosso próximo programa corporativo.
Quarta meta: ajustar as
estruturas administrativas de liderança
Segundo o EPRI Bill Huntley, esta é a meta
mais importante. Virão dela, naturalmente, as regras necessárias para o
sucesso do Plano Estratégico, permitindo – como afirmado pelo presidente
Estess – “a continuidade ao trabalho de nossa organização”.
Objetivos:
1. Desenvolver um plano e um
procedimento que levem à utilização mais eficaz dos recursos
administrativos, aprimorando assim os serviços prestados aos Rotary
Clubs. 2. Preparar propostas de
legislação que definam a autoridade do presidente da organização, do
Conselho Diretor e de seus administradores no que diga respeito às
prioridades, projetos, programas e
despesas. 3. Preparar propostas de
legislação que visem coordenar o enfoque dos programas da organização, e
exigir que a Comissão de Planejamento Estratégico prepare um relatório
anual a ser apresentado ao Conselho Diretor – que, por sua vez,
encaminhará um relatório ao Conselho de
Legislação. 4. Identificar os
valores essenciais do Rotary ligados a assuntos administrativos e
incluí-los no Código Normativo. 5.
Definir as atribuições de todos os cargos administrativos. Destaque para o segundo objetivo da relação, que
reforça a necessidade de orientarmos e dirigirmos nossa organização de
maneira clara e dentro de parâmetros previamente definidos. Ele também
salienta a necessidade de sabermos, em todas as escalas hierárquicas, até
onde e como devemos nos comportar, evitando personalismos e atitudes que
não se afinam com o sentido associativo do Rotary. É
bom esclarecer que, de acordo com a definição do Manual de Procedimento,
são considerados administradores “todos os membros do Conselho Diretor do
RI e o secretário-geral, como administradores gerais; e os governadores, o
presidente, o ex-presidente mais recente, o vice-presidente e o
tesoureiro-honorário do RIBI – estes últimos, como
administradores”.
Quinta
meta: melhorar a capacitação e o treinamento em todos os níveis
Tal meta representa um importante passo,
destinado a melhorar o desempenho dos rotarianos para as funções e
necessidades de nossa organização. É importante lembrar que o Rotary
International é considerado uma organização bem estruturada, bem orientada
e disciplinada, que tem no profissionalismo que procura imprimir ao seu
estafe funcional um ponto de referência. No entanto, a organização se
ressentia há muito tempo de uma melhor estruturação em seu sistema de
escolha e treinamento daqueles que são sua mola-mestra: os governadores e
os presidentes de clube. Na verdade, alguns
progressos nesse setor já vêm sendo feitos. Uma prova disso é o Plano de
Liderança Distrital, em pleno funcionamento – e que, apesar de conter
pequenas distorções, é bastante válido. De qualquer
forma, nossas lideranças mais destacadas merecem receber uma maior
atenção, já que, na verdade, sua escolha – determinada pelo sentido
extremamente autônomo implantado nas regras estatutárias e regimentais da
organização – fogem totalmente ao acompanhamento e à orientação do Rotary
International. Na verdade, o grau de capacitação que
pretendemos imprimir às nossas lideranças há muito está instalado no
estafe burocrático do RI – então por que não aplicá-lo também em nível de
voluntariado ?
Objetivos: 1.
Determinar os conhecimentos e a experiência necessários para que cargos no
clube, no distrito e em nível internacional sejam assumidos, e avaliar a
eficácia dos atuais programas de
treinamento. 2. Desenvolver
programas de capacitação em função dos conhecimentos e da experiência
exigidos. Ressalto o primeiro dos dois
objetivos e pergunto: será que o dever e as possibilidades de atuação dos
governadores de distrito se exaurem no dia 1o de julho do ano em que
encerram o mandato? Será que o Rotary não está desperdiçando mão-de-obra e
talentos valiosos por falta de um efetivo acompanhamento? Creio que
perguntas assim devem ter influído na fixação desta meta.
Sexta meta: expandir e
integrar o quadro social em todo o mundo Não
se fala mais em reter, mas em integrar o sócio. Mais do que expandir o
Rotary, num movimento natural e necessário à sua própria sobrevivência,
falamos em integrar o novo sócio – vale dizer: amalgamá-lo ao Rotary –
para que ele não seja apenas um número a mais ou a menos, sem razão ou
critério.
Objetivos:
1. Desenvolver e implementar um
plano que promova o reconhecimento e a preservação da diversidade cultural
da organização. 2. Desenvolver e
implementar um plano abrangente destinado ao desenvolvimento e à retenção
do quadro social, baseado na avaliação das atuais iniciativas nesse
setor. 3. Desenvolver e implementar
um plano igualmente abrangente de expansão do Rotary em todos os países e
comunidades que ofereçam condições para o adequado funcionamento de um
clube. 4. Destacar a importância de
se planejar para as reuniões ordinárias uma programação que seja do
interesse dos sócios, sob os pontos de vista pessoal e
profissional. Por sua importância, dois objetivos
desta meta merecem análise. O primeiro, por destacar a natureza
internacional de nossa organização: é natural que todo e qualquer
movimento terá que ser visto e implantado, dentro da diversidade que
justifica a unidade rotária – e, certamente, é assim que se vem tentando
fazer. O quarto objetivo é, por certo, a resposta direta e objetiva às
dificuldades de integrarmos o sócio ao clube e, conseqüentemente, ao
Rotary como um todo. Por várias vezes, tive a
oportunidade de procurar dar ênfase a aspectos pontuais e de suma
importância relacionados tanto à admissão como à integração dos sócios,
seja em artigos publicados na Brasil Rotário ou durante os dois anos em
que exerci a Coordenadoria do Quadro Social na Zona 20. Sem uma reunião
rotária atraente, não há como manter um quadro social ativo e capaz de
prestar serviços. Quem ingressa no Rotary o faz por opção, e não por
obrigação. Logo, se não oferecemos a esse sócio a resposta imediata que
ele tanto espera, o desânimo e o desinteresse crescem dentro dele,
diminuindo nossas oportunidades de
servir.
Sétima meta:
aprimorar nossa imagem pública Se este já é
um campo bastante difícil para os especialistas no assunto, o que dizer de
nós, que cremos no Rotary, pugnamos pela causa rotária mas, por formação
profissional e vocação, pouco ou quase nada sabemos sobre o assunto? Ao
eleger esta meta, a Comissão do Plano Estratégico afirmou: “Tentamos ser
descobertos pela mídia de todas as formas, mas parece que as boas notícias
não vendem...” Companheiros, o Rotary só tem boas
notícias a transmitir, apoiando as comunidades carentes, desenvolvendo
projetos sociais e patrocinando a cultura através da Fundação Rotária.
Cada um de nós é um elo na luta pela paz e pela compreensão mundial.
De fato, na atualidade as boas notícias não vendem –
mas não podemos nem temos o direito de desanimar, pois um dia teremos a
paz não como um simples sinônimo da falta de guerras, mas como a forma de
vida de todos os povos do mundo. E aí, certamente, seremos
notícia!
Objetivos:
1. Desenvolver um procedimento
destinado à avaliação dos esforços dedicados a melhorar a atual imagem
pública da organização. 2.
Aproveitar a comemoração do centenário do Rotary no período 2004-05 para
aprimorar mundialmente a imagem pública da organização, dando ênfase à
região de Chicago, sede da Convenção do Centenário e berço do
RI. 3. Diversificar a abordagem dos
trabalhos no setor de relações públicas, utilizando todos os veículos
oferecidos pela mídia e levando em consideração as diferenças
regionais.
Destaques
finais Concluindo esta breve avaliação de
nosso Plano Estratégico, vamos a duas premissas destacadas por seus
idealizadores, das quais dependerá o êxito de nosso segundo século de
serviços, esta nova empreitada a que nos lançamos a partir de 1o de julho
de 2004. A primeira é a seguinte: o Plano Estratégico
deve abranger e atingir todos os níveis da organização. Nada ou pouco
adiantarão as metas e os objetivos aprovados se eles não contarem com o
apoio e a participação de todos os rotarianos, desde o clube até o mais
alto escalão nas estruturas de decisão do
RI. Lamentavelmente, constata-se – como regra geral –
o desinteresse de muitos e o engajamento de poucos, sendo real a afirmação
do EPRI Bill Huntley: “Muitos rotarianos sabem o nome do presidente de seu
clube – mas pára por aí o conhecimento rotário que têm. No entanto, de
outra sorte, eles conhecem o que as suas comunidades necessitam...”
Ou seja: o Plano Estratégico deve e tem que ser
discutido, avaliado e aplicado por todos em todos os
níveis. A segunda conclusão, não menos importante,
diz que o Plano Estratégico deve traçar o futuro e dar solidez ao Rotary –
pois, da mesma forma como os rotarianos venceram o primeiro século de sua
história com todo vigor e glória, devemos agora nos preparar para os
nossos próximos 100 anos. Companheiros, estou certo
de que o Plano Estratégico será o grande desafio do Rotary em seu segundo
século, e que o seu sucesso garantirá o êxito e a eficiência que todos nós
pugnamos para nossa organização de prestação de
serviços. |