Piedade para as cricanças de Apartamento.

(matéria publicada na Folhinha de S. Paulo, edição de 20 de fevereiro de 1.966)

Piedade para as Crianças de Apartamento.

Na FOLHINHA do último domingo, Tia Lenita iniciou uma campanha visando acabar com o cativeiro em que vivem as criancas de apartamento.

O nome da campanha é Piedade para as Crianças de Apartamento. Vocês sabem que há prédios de apartamentos que, apesar de terem jardins, não deixam nenhum menino brincar neles. E é isso que precisa acabar. Criança tem necessidade de ar, do contato com a terra e todos os prédios deviam ter um jardim, como o da foto, para as criancas. Assim, Tia Lenita pede às crianças e aos pais que enviem sugestões para resolver esse problema, sugestões essas que serão mais tarde encaminhadas às autoridades competentes.

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Num dos números anteriores da FOLHINHA, vimos as conseqüências da falta da prática dos folguedos na idade infantil. Relembrando: A criança, não tendo com o que se distrair, se sente realizada, ou seja, pensa que sua infância já terminou e passa para o episódio seguinte da vida. Mas, como ela não está preparada e, também, a nossa sociedade não possui recursos para um boa orientação, ela sai do bom caminho, inclinando-se para o vício e a delinqüência.

Passemos agora para a existência dos folguedos psiquicamente organizados. Uma das minhas principais preocupações é a falta de entrosamento entre as diversas atividades humanas e a inteligência. Exemplificando: Nos folguedos as crianças agem segudo seus instintos, movimentado-se mecanicamente e não seguindo um plano inteligentemente traçado. Nas escolas, onde ela deveria fazer essa associação, apenas pratica atividades mecânicas como por exemplo: em Geografia decora as capitais e se perguntarmos, por exemplo, onde fica Curitiba ela não saberá responder. Outro bom exemplo da mecanização é a taboada.

Atualmente, um outro fator concorre para o arrruinamento da mente infantil: é o "fazer para receber". Se a senhora pedir para que uma criança faça determinada tarefa ela lhe responderá: "Que vou receber um troca?" Isto é, a criança está se tornando execessivamtente materialista e, dentro de alguns anos, não veremos mais a prática de atos éticos ou de boa educação.

Mesmo entre os adultos notamos essa falta de entrosamento (atividade-raciocínio). Numa discussão, por exemplo, o homem age segudo seus instintos e raramente uma discussão não acaba numa briga. Deste modo, estou reestruturando os folguedos cuja finalidade seja a de desenvolver paralelamente o físico e a mente.

Numa GINCANA que realizei há pouco tempo, com a colaboração da Sociedade Amigos de Vila Guilhermina, a conclusão que pude tirar foi a mais drástica possível. Na Prova da Conta, por exemplo, meninos que concluíram o 20 ano primário não conseguiram resolver cálculos como 63+75 ou 49-23. Isto prova o que? Que embora conheçam o assunto não sabem aplicar seus conhecimentos na prática. A senhora já imaginou se esse menino continuar assim em que bom elemento se tornará?