Revista
Arquitetura & Construção. Edição setembro de 2012 |
Veja a entrevista completa:
Olá, Roberto, tudo bem?
Estou com uma nova pauta
para a revista Arquitetura & Construção, dessa vez de esquadrias. Deve sair na
seção Obras Sem Segrego da próxima edição. Você pode, por favor, me ajudar nessa
pauta? Mando algumas perguntas abaixo.
Desde já, muito obrigado!
Abraço
João Varella
@joaovarella
www.trilhosurbanos.com
Esquadrias, em especial janelas, é um dos temas mais “bagunçados”
da construção. Parece que qualquer serralheiro ou aprendiz de serralheiro se
mete a fabricar esquadrias numa fábrica de fundo de quintal e ganha muito
dinheiro.
Fabricam esquadrias de péssima qualidade, utilizando materiais,
em geral, refugados pela construção civil, sem resistência contra arrombamentos,
sem resistência às intempéries e sem propiciar o mais importante que é a vedação
à chuva e ao vento.
QUESTÃO 1 - Alguns anos
atrás, as pessoas tinham mais preconceito com as esquadrias de PVC. Quais foram
as mudanças no mercado de esquadria nos últimos anos? Como está o cenário atual?
Quais os materiais mais comuns para esquadria? Madeira, PVC, alumínio, ferro,
aço...?
No caso do PVC, o preconceito foi mais provocado pelos
fabricantes de esquadrias de alumínio.
Alumínio e aço utilizam mais ou menos os mesmos equipamentos e
ferramentas e quem sabe fabricar em aço fabrica bem em alumínio.
O PVC muda bastante essa infraestrutura. Trazida a partir de
experiências bem sucedidas nos países de primeiro mundo, as esquadrias de PVC
tiveram, de início, problemas com a matéria prima.
Ao mesmo tempo, não encontrava, no mercado, fabricantes de
acessórios como gaxetas, guarnições, puxadores, dobradiças, etc. empregando-se
com deficiências, acessórios para esquadrias de alumínio.
A partir da instalação do Polo Petroquímico de Camaçari, em 1979,
o Brasil atingiu a auto-suficiência na produção do Policloreto de Vinila e
diversos centros de pesquisas iniciaram o desenvolvimento de aditivos,
pigmentos, acrilatos e outros produtos e substâncias que tornam o PC mais
resistente a impactos, variação brusca de temperatura, estabilidade da cor e
outros parâmetros e características importantes e imprescindíveis no uso
das esquadrias.
A escolha do material depende mais do partido arquitetônico e
hábitos dos futuros moradores. Uma casa colonial, por exemplo, não dispensa o
emprego de esquadrias de madeira.
QUESTÃO 2 - Há diferenças
(nos problemas e nas soluções) entre esquadrias de casas e de apartamentos?
Sim. Os prédios de apartamentos e as casas são produzidas, em
geral, segundo metodologias distintas em função da escala de produção.
No caso dos prédios é dada preferência a produtos com menor
incidência de mão de obra especializada e maior grau de automação nos processos.
Já nas casas encontramos soluções que requerem maior incidência
de mão de obra com detalhes sofisticados, principalmente de acabamento.
QUESTÃO 3 - De que forma
devo fazer a manutenção da minha esquadria? Em que intervalo de tempo? Muda de
acordo com o material (madeira, metais, PVC)?
A tendência moderna é simplificar ao máximo e até eliminar, se
possível, qualquer manutenção e limpeza de esquadrias.
No caso do Alumínio e do PVC é possível esse pensamento pois no
processo de anodização do alumínio e no processo de fabricação da matéria prima
PVC, adicionam-se substâncias que conferem acabamento com baixíssimo grau de
aderência de sujeiras o que simplifica a limpeza.
As esquadrias de aço requerem pintura após a instalação e, em
geral, feitas pelo próprio morador. Pecam, dessa forma, de qualidade na escolha
da trinta e também na aplicação.
Há esquadrias de aço que são fornecidas já pintadas, inclusive em
embalagens que permanecem durante todo o processo de instalação sendo removidas
somente após a pintura do prédio estar terminada. Neste caso empregam-se
processos de pintura mais eficientes na aderência e manutenção como pintura
eletrostática com adição de pigmentos e aditivos especiais.
A frequência da manutenção varia em função da agressividade do
meio ambiente. Edifícios nas proximidades da orla marítima e também esquadrias
que são submetidas às intempéries como aquelas que recebem a incidência direta
dos raios solares ou de chuvas são mais susceptíveis ao desgaste, por queima ou
abrasão, e devem ser repintadas com maior frequência.
QUESTÃO 4 - Que produtos são
indicados para cada tipo de esquadria? Por exemplo, para limpar esquadrias de
alumínio, usa-se silicone de cura neutra?
Devido à existência de uma camada superficial “antiaderente”
deve-se empregar somente detergente do tipo neutro na limpeza das esquadrias,
aplicando com um pano macio.
Já os vidros, não costumam receber qualquer tratamento
antiaderente em sua superfície e são mais receptivos à aderência de sujeira e
marcas de mão. Os vidros são também mais resistentes à abrasão e ao risco de
modo que é possível o emprego de saponáceos e palha de aço na sua limpeza.
QUESTÃO 5 - O cuidado e
manutenção muda de acordo com a região em que se mora? Quem tem casa perto da
praia precisa redobrar algum cuidado (por exemplo, colocando mais verniz ou
filtro solar)?
Nas proximidades da orla marítima, o ar ambiente é carregado de
partículas salinas que promovem a reação eletroquímica de metais. Assim, as
esquadrias de aço e as de alumínio devem receber um tratamento com produtos à
base de zinco.
Tecnicamente falando, o zinco funciona como anodo de sacrifício,
sendo desgastado na reação eletroquímica no lugar do ferro ou do alumínio,
preservando, desta maneira, a integridade física da esquadria.
No caso das esquadrias de madeira, não existe qualquer agente que
diferencie o ar da praia com o ar da montanha de modo que não há cuidados
especiais por estar próximo ao mar.
A esquadria ideal na orla marítima é a de PVC.
Ao escolher o verniz como acabamento de esquadrias de madeira
deve-se sempre optar pelo Verniz Marítimo, o mesmo empregado para proteção de
cascos de embarcações. É o único que tem resistência contra a incidência de
raios ultra-violeta.
QUESTÃO 6 - Quais os
problemas mais comuns em madeira/ PVC/ alumínio (empenam? amassam? racham?
quebram? descascam? soltam?) e como resolver essas questões?
.
QUESTÃO 7 - Se a minha
esquadria não tiver salvação, como é feita a troca?
As esquadrias mais trabalhosas na troca são aquelas cuja fixação
é feita por meio de partes que ficam chumbadas na alvenaria como grapas, tarugos
e grampos. As esquadrias de aço e as de madeira costumam ser instaladas por meio
desses dispositivos.
As de alumínio e de PVC são instaladas sobre contramarcos, estes
sim chumbados na alvenaria. Na instalação não se empregam parafusos sendo as
peças apenas encaixadas no contramarco. Numa eventual substituição ou troca da
janela, a antiga é desencaixada do contramarco e a nova é encaixada no mesmo
contramarco. Além da facilidade, o serviço não envolve a quebra da parede e nem
a remoção de entulhos.
Tem dificuldades de troca algumas esquadrias de alumínio,
principalmente aquelas fabricadas em oficinas de fundo de quintal que não
possuem contramarco e sua fixação na parede é feita de forma análoga à esquadria
de aço, isto é, com grapas que são chumbadas na alvenaria.
QUESTÃO 8 - Qual é a
diferença em termos de custos entre esquadrias de diferentes materiais? E os
gastos com manutenção, variam de acordo com o material?
Não há diferença significada imputável à escolha do material. A
grande diferença está na qualidade da esquadria.
Uma boa janela é dotada de rodízio silencioso, buchas
que permitem um deslizar suave, escovas que garante uma boa vedação de
água e de vento, gaxetas que garantem a estanqueidade e guarnições duráveis.
O custo de manutenção não é significativo quando olhamos apenas
no custo de limpeza mas assume proporções proibitivas quando olhamos para as
regulagens e substituição de componentes que se desgastam pelo uso.
As esquadrias do tipo de correr e as do tipo maxim-air, que
possuem trilhos, se desregulam com facilidade e não é fornecido ao usuário
(morador ou proprietário) um bom Manual de Uso explicando em detalhes como deve
ser feita a regulagem e a substituição das buchas.
Não é raro encontrar casos graves de folhas de janelas que saem
“na mão” pelo excesso de folga que se forma com o desgaste de buchas. Acidentes
com queda de folhas de janelas são mais comuns do que se pensa.
QUESTÃO 9 - O tipo de
persiana (de correr ou enrolar) influencia na resistência da esquadria?
As persianas e as redes de proteção não influenciam da
resistência ou na operação das esquadrias pois são instaladas à parte das
mesmas, exceto, aquelas persianas instaladas no interior da esquadria.
Algumas janelas possuem vidro duplo intercalado com uma persiana
no interior.
QUESTÃO 10 - Com que
tipo de tinta dá para pintar esquadrias de alumínio/ferro/aço? E as de madeira?
E as de PVC?
Não é recomendável a pintura em esquadrias de alumínio e as de
PVC. No processo de anodização do alumínio ou de produção da matéria prima do
PVC são adicionados produtos que conferem maior resistência à aderência de
sujeira.
Fabricantes de fundo de quintal costumam empregar alumínio comum,
para a fabricação de esquadrias. Esse procedimento deve ser totalmente condenado
pois os perfis de alumínio fabricados para a confecção de esquadrias é uma liga
de alumínio com certas características, como resistência mecânica, importantes
no funcionamento da esquadria.
No caso da esquadria de aço, o importante não é a tinta mas sim a
proteção contra a reação eletroquímica conferida por produtos
à base de zinco..
QUESTÃO 11 - Como é a
instalação e fixação das esquadrias? Muda de acordo com o material?
Sim, e muda radicalmente.
As esquadrias de madeira e de aço são fixadas por meio de
dispositivos que ficam chumbados dentro da alvenaria. São grapas, tarugos e
grampos.
As esquadrias de alumínio e de PVC são instaladas por meio de
encaixes no contramarco.
QUESTÃO 12 - Como é a
vedação de cada tipo de esquadria?
A vedação é garantida pelos cortes das longarinas.
No caso das esquadrias fabricadas com perfis, caso do alumínio e
do PVC, tais perfis são ocos e permitem o fluxo de água pelo seu interior.
Então, o tipo de corte efetuado nos cantos podem favorecer ou
difuculta a penetração da água da chuva para o interior
do perfil.
Exemplos de corte:
Outro componente importante é a
gaxeta, responsável pela estanqueidade na interface com o vidro.
O fabricante de fundo de quintal costuma fixar o
vidro com massa de vidraceiro independentemente da esquadria ser de aço, de
alumínio ou mesmo de PVC.
Também não podemos negligenciar a vedação da folha móvel contra a
penetração de água da chuva e do vento. O componente que faz isso é a
escova.
A escova é um componente “desconhecido” pelo fabricante de fundo
de quintal.
Instalada ao longo do contato entre a folha móvel e a folha fixa,
a escova promove a estanqueidade, impedindo a passagem da água e, principalmente
do vento. Adicionalmente, a escova forma uma colchão macio que não deixa as
folhas “baterem” uma das outras eliminando aquele barulho terrível em noites com
vento.
Também, importantíssima, é a guarnição que deve ser instalada na
parte alta do trilho vertical nas janelas do tipo maxim-air. No final do
fechamento da folha móvel, as guarnições garantem a estanqueidade na verga
superior da janela.
QUESTÃO 13 - Janelas
anti-ruido pedem um tipo específico de esquadrias?
Não.
As populares janelas anti-ruído são uma espécie de segunda janela
aplicada sobre a janela existente.
Tecnicamente, todas as janelas deveriam ser anti-ruído pois
ninguém gosta de ficar ouvindo o barulho de fora, principalmente se o vizinho é
um bar com música ao vivo.
Nos edifícios de apartamentos, a face voltada para via pública
deveria ter todas as janelas com dispositivos que permitam uma boa atenuação
acústica.
QUESTÃO 14 - Quais são os problemas mais comuns e qual a origem (ou causa)
desses problemas?
Penetração de água da chuva.
As esquadrias não possuem, em geral, boa aplicação de gaxetas,
escovas e guarnições.
Mesmo aquelas esquadrias fabricadas com tais dispositivos, a sua
manutenção é negligenciada e esses componentes que se desgastam facilmente pelo
uso não são substituídos e não recebem uma manutenção adequada.
Passagem do vento produzindo silvos.
O silvo é produzido pela passagem do vento pela fresta entre a
folha móvel e a folha fixa pela ausência de escova ou pela falta de substituição
da escova desgastada.
Estalos ao raiar do dia.
Esquadrias de grandes dimensões, janelas grandes e portas do tipo
balcão, principalmente de alumínio, que possui alto coeficiente de dilatação
térmica, necessitam ser projetadas e calculadas para a variação das dimensões.
É muito comum janelas de alumínio ficarem “estalando” com a
incidência dos raios solares. Dispositivos deslizantes como buchas de nylon
permitem a dilatação pelo efeito térmico dos raios solares, com deslizar macio e
silencioso.
Dificuldade de limpeza do lado externo de janelas em
apartamentos.
Muito comum a janela de uma única folha móvel do tipo de correr,
principalmente nos apartamentos populares. Não há como acessar a parte de fora
do vidro.
Muito comum também janelas do tipo maxim-air não permitir a
abertura total (daí o nome máximo ar).
Caso permitisse, a limpeza do lado externo poderia ser feito pelo
lado de dentro, com a água escorrendo para o lado de dentro.
Travas instaladas nos trilhos impedem a abertura excessiva
acidental.
Dificuldade de manobra.
Os materiais sofrem esterese e sofrem deformações ao longo do
tempo. Janelas de correr de aço e de PVC que antes funcionavam bem passam a
engripar.
Prevendo necessidade de ajustes, tais janelas deveriam ser
fabricadas com buchas e outros dispositivos que permitam o seu ajuste.
Folhas que se soltam.
Buchas de nylon que servem para promover um deslizar macio e
silencioso, principalmente nas janelas do tipo de correr, se desgastam com o
tempo formando folgas. Dependendo do desenho da janela, a folga pode atingir
valores que permitem que a folha móvel fique solta.
Há casos de folhas que caem causando graves acidentes em
transeuntes.
Falta de dispositivo para a Ventilação Permanente.
Alguns ambientes necessitam de Ventilação Permanente, que é um
dispositivo fora do alcance do usuário, que propicia o contínuo renovar do ar do
ambiente.
Lavanderia e Cozinhas com fogão ou aquecedor a gás, lavabos de
Salão de Festas, Dormitórios, etc.
São ambientes em que a renovação, também conhecido como
arejamento, é necessária. Um bom sono é propiciado pela troca do ar viciado,
rico em gás carbônico, pelo ar “fresco” do exterior “rico” em oxigênio.
Até janelas do tipo maxim-air devem ter dispositivo de ventilação
permanente. Veja um exemplo:
Insuficiência se área de iluminação natural.
Janelas existem para permitir a renovação do ar e também para
promover a iluminação natural.
A iluminação natural é importante não apenas pela luz que ilumina
mas principalmente pelos raios ultravioletas que possui um poder germicida que
promove a profilaxia dos ambientes.
Ambientes mal iluminados (e que não recebemos raios do sol)
favorecem a aquisição de doenças respiratórias.
Quantos de crianças devem sempre ter janela voltada para as
direções leste, norte ou oeste, nunca para o sul.
Algumas Prefeituras, como a de São Paulo, possuem Leis que não
aprovam projetos com dormitórios voltados para o sul.
Há deficiência na bibliografia adotada nas escolas de engenharia
e de arquitetura pelo fatos de serem simples traduções de literatura técnica
oriunda de países do hemisfério norte e de países de clima temperado.
\janelas\revistaArquiteturaConstrucaoSETEMBRO2012.htm em 28/03/2004, atualizado em 27/05/2016.