logoP.JPG (6461 bytes)

RECURSOS HÍDRICOS NO BRASIL

16

PEGADA HÍDRICA - O USO DA ÁGUA
Anote este endereço: www.ebanataw.com.br/pegadahidrica/

 

O QUE É CONSUMO PER CAPITA:

Toda vez que enfrentamos uma crise de abastecimento de água começam a circular Índices de Consumo com números diversos sem que se tenha o cuidado de mostrar que tipo de demanda está por detrás desses índices. Há diferenças conceituais significativas quando consideramos a população para a qual se estuda. Uma coisa é determinar o consumo "per-capita" de uma população que vive isolada e que precisa de água apenas para as necessidades básicas como beber e preparar a comida. Outra coisa bastante diferente é determinar o consumo "per-capita" de uma população urbana que usa a água para finalidades diversas como em hospitais, hotéis, restaurantes além das necessidades básicas.

O Abastecimento Público de Água é feito, sempre, com base num índice unitário que considera a demanda de toda a água utulizada pela cidade dividida pelo número de pessoas que moram na cidade (população fixa). As cidades possuem características próprias que diferem de uma cidade para outra. Pacatas cidades do interior têm uma demanda relativamente baixa pois não há indústrias nem shopping centers ao passo que uma cidade Turística como a do Rio de Janeiro apresenta índice alto de demanda pela existência de muitos hotéis que utulizam muita água, não só para o preparo das refeições como também pela lavaderia e outros setores como saunas e banhos, onde consideramos a demanda total dividida pelo número de habitantes fixos e desconsiderando a população flutuante de turistas.

PEQUENA COMUNIDADE:
Uso para necessidades básicas:
110 litros por habitante por dia.
GRANDE METRÓPOLE:
Uso para necessidades em hospitais, aeroportos, shopping, fábricas, restaurantes, etc.
500 litros por habitante fixo por dia.

Fala-se muito que a ONU recomenda um consumo mínimo de 110 litros de água por habitante por dia e critica-se o consumo em cidades como o Rio de Janeiro que gasta mais de 300 litros de água por habitante por dia.

Não tem sentido comparar diretamente o número 110 da ONU com os 300 de uma cidade grande pois no número da ONU está considerado apenas o consumo humano para beber e o preparo de comida, água que precisa ser Potável, em geral tratada, não estando computado outros usos pessoais como tomar banho e lavar roupa cuja água não precisa, necessariamente, ser Potável, podendo ser do rio ou da lagoa.

Nos 300 litros por habitante por dia, embora dê a entender que se trata do uso pessoal de um único Habitante, na verdade é um número que inclui os usos de Hospitais, Hotéis, Restaurantes, Clubes Esportivos, Shopping Centers, Lavanderias Industriais, Aeroportos, Rodoviárias e também usos públicos como o saudável hábito de lavar as ruas ou irrigar as plantas nos jardins de praças públicas. No cálculo da população não se leva em consideração o número de turistas.

Outro caso: A cidade de Ferraz de Vasconcelos, vizinha a São Paulo é, tipicamente, uma cidade dormitório, isto é, a população ativa sai para trabalhar em outras cidades, de modo que o consumo per capta é baixo, em torno de 127 litros por habitante por dia pois envolve apenas o consumo pessoal, pois não há indústrias, hotéis, hospitais e outros usos além do fato da população "almoçar fora" e, por isso, não precisar de água para o preparo e nem para lavar os pratos e panelas do almoço.

Próximo a Ferraz de Vasconcelos encontramos a cidade de Mogi das Cruzes que faz parte do cinturão verde da Grande São Paulo, fornecendo grande parte dos horti-fruti-granjeiros consumidos em São Paulo, e que apresenta números do tipo de 371 litros por habitante por dia, bem maior que os 127 de Ferraz de Vasconcelos.

Embora a irrigação das culturas de hortaliças seja feita pelo agricultor com água captada diretamente em rio ou lagoa e não usando a água do abastecimento público, a limpeza, higiene e embalagem, principalmente dos produtos de origem animal demandam quantidade substancial de água potável, afinal você não gostaria de comprar no supermercado uma alface cheia de terra mas sim lavada, aliás bem lavada, higienizada, embalada e pronta para consumo. Essa etapa final da produção é feita, em geral, em ambiente industrial com equipamentos de higienizaçao e embalamento automático de grande porte e utilizando água fornecida pela concessionária de abastecimento público de água.

A cidade de São Paulo é uma cidade tipicamente de Turismo, não o Turismo de Lazer mas sim o Turismo de Negócios e o Turismo de Saúde. Tais atividades ocorrem pela concentração de hospitais de especialidades, bairros de comércio como o Brás e Pari e ruas como a 25 de março que requerem infraestrutura de hotéis, desde os de alto padrão até as pousadas e pensões mais simples e humildes, estações rodoviárias, ferroviárias, aeroportos e também shopping centers, restaurantes e bares para o atendimento de centenas de "sacoleiros" provenientes de todos os cantos do Brasil que afluem diariamente nos milhares de ônibus fretados. Tudo isso usa água, muita água, não só para beber e preparar comida como também para lavar a roupa de cama, as panelas, o chão e todas as atividades para garantir higiene, saúde e bem estar.

O turismo não altera o número de habitantes pois são pessoas de fora que vem e voltam para suas cidades de origem, passam algum tempo na cidade e demandam água no hotel, da rodoviária, no aeroporto, no shopping e restaurantes. As estatísticas de demanda de água não levam em consideração esta população flutuante e calculam a demanda per capita dividindo o total demandado pela população fixa da cidade.

A EFETIVIDADE DE UMA CAMPANHA:

Fazer campanha de economia de água direcionada à população com ênfase na redução de uso pessoal como tomar banho tem sentido em cidades como Poá onde o maior percentual de consumo de água é para uso doméstico mas não tem muito sentido numa cidade como São Paulo onde a grande parte da demanda é para hospitais, hotéis, restaurantes e shopping centers.

Veja como é a Taxa de Ocupação em alguns bairros característicos da cidade de São Paulo

BAIRRO

Taxa de Ocupação (%)

RESIDENCIAL

COMERCIAL

INDUSTRIAL

PÚBLICO

Americanópolis

90,7

6,7

1,0

1,6

Araçá

73.6

17,8

0,4

8,2

Butantã

80,8

14,1

1,2

3,8

Casa Verde

59,1

27,9

10,7

2,3

Consolação

46,3

46,7

0,3

6,6

Jabaquara

76,9

12,5

1,1

9,5

Mirante

31,1

17,7

2,2

49,0

Vila Madalena

59,7

32,5

0,7

7,1

Vila Maria

57,8

29,5

8,8

3,8

A demanda industrial ou industrial/comercial é também um fator de demanda de água potável. Um pacote higienizado de coxa de frango, por exemplo, comprado no supermercado exigiu que na área de higienização e embalagem o frango e as partes fossem lavados com água potável e os locais e instrumentos de processamento como as mesas, bancadas, bandejas, facas etc. fossem lavados também com água potável fornecida pela rede de abastecimento público.

Essas atividades ditas industriais são desenvolvidas localmente por um pequeno supermercado mas nas grandes redes essas atividades são realizadas em grandes centrais de empacotamento e, em geral, não usam a água da rede de abastecimento público, preferindo outras fontes como o rio ou poço próprio. Algumas pessoas poderiam não considerar esse volume de água mas, na verdade, mesmo retirado de rios ou de poços próprios, essa demanda concorre com a demanda pública pois é menos água nos rios e menos água no lençol freático disponível para a população.

Numa análise mais ampla não é possível desprezar a demanda de água agregada aos produtos que chegam às prateleiras de consumo. Mesmo itens como o pãozinho que consta do nosso café matinal, necessita de cerca de 80 litros de água. Isso se você consumir o pãozinho sem nada, sem manteiga nem mortadela, pois se você rechear o pão como num hamburguer a demanda será de 2.400 litros de água num único hamburguer pois o queijo, a carne e o famoso (alface, tomate e picles) requerem muita água para serem produzidos.

A PEGADA HÍDRICA:

Chama-se PEGADA HÍDRICA a contabilização de "todas as águas" que foram utilizadas na obtenção do produto pronto incluindo etapas anteriores de produção das partes e insumos como a irrigação do trigo, o abate do gado, o tomate, o beneficiamento do queijo e o preparo do sanduiche.

Para chegar até aqui, um único pãozinho
gastou 80 litros de água
Para chegar até aqui, um único sanduiche
gastou 2.400 litros de água

Então, quando você consome um sanduiche e não toma nada para acompanhar pensa que não está consumindo água mas está, na verdade, consumindo as "águas" que foram utilizadas em outras cidades onde o tomate, o alface, etc. foram produzidos.

Mesmo itens que aparentemente não tem nada a ver com a água como um calça jeans, por exemplo, usa mais de 1.900 litros de água para ficar bonita e com aquela aparência de “velha, rasgada e desbotada” como exige a moda.

Uma das maiores fábricas de produção do INDIGO está localizada no município de Maracanaú/Ceará e desenvolve pesquisas para diminuir os 11 mil litros de água consumidos, desde o plantio até a lavagem final,  para se produzir apenas uma única calça. Veja suplemento SERAFINA do jornal Folha de S.Paulo de 24 de setembro de 2017.

Chama-se Pegada Hídrica e há muitas pesquisas em desenvolvimento no mundo, em especial nos países mais desenvolvidos, de métodos alternativos de produção que usam menos água nos processos.

Veja outros exemplos de pegada hídrica:

Veja a Pegada Hídrica, isto é, toda a água necessária para se produzir alguns produtos:

PARA PRODUZIR:  GASTA-SE: 
Pãozinho de 50 gramas  80 litros de água 
Hamburguer bem recheado  2.400 litros de água 
Calça Jeans da moda  1.900 litros de água 
Camiseta de algodão, sem estampa  2.700 litros de água 
Cerveja de um copo  75 litros de água 
Maçã  700 litros de água 
Notebook  31.500 litros de água
Par de sapatos de couro  8.000 litros de água 
Vinho de uma taça  110 litros de água 
Bife de carne - 200 gramas 3.080 litros de água 
Carne bovina - 1 kg, média no mundo 15.497 litros de água 
Carne bovina - 1 kg no Brasil 16.961 litros de água 
Carne bovina - 1 kg nos EUA 13.193 litros de água 
Chá verde - 1 xícara  30 litros de água 
Carne suína - 1 kg  6.000 litros de água 
Queijo - 1 kg  5.000 litros de água 
Arroz cru - 1 kg  2.500 litros de água 
Açucar refinado - 1 kg  1.500 litros de água 
Leite - 1 litro  1.000 litros de água 
Arroz - 1kg no Brasil  3.082 litros de água 
Arroz - 1 kg nos EUA  1.275 litros de água 
Arroz - 1 kg, média no mundo 2.291 litros de água 

Então, desejando colaborar com a Campanha de Economia de Água, você poderia, em tese, deixar de tomar banho o que ajudaria economizar 135 litros de água, ou poderia deixar de tomar uma taça de vinho o que ajudaria a economizar 110 litros de água. A escolha é sua entre ficar alegre-fedido pois colaborou com campanha não tomando banho ou limpo-triste pois contrariando o apêlo da campanha tomou o higiênico e acalmante banho mas colaborou não consumindo a taça de vinho.

Um depoimento:

Não tomei banho pensando que estaria dando minha grande contribuição para a economia de água e deixei de gastar 135 litros de água. Depois, satisfeito com essa minha grande colaboração para a ecologia, comi uma maçã e acabei gastando, sem saber, 700 litros de água. Se a maçã era importada então foram 700 litros de água, água deles, de outro país.

No supermercado, em vez de comprar um pacote de 5 kg de arroz brasileiro (15.410 litros de água) preferi comprar um pacote americano que gastou 6.375 litros de água, água deles, economizando 15.410 litros de água nossa.

Nos países do Primeiro Mundo, a população, feliz por não ter rios poluídos, festeja comendo e bebendo, consumindo produtos produzidos em países do Terceiro Mundo, e depois limpam com guardanapos de papel no salão enfeitado com bandeirinhas coloridas de papel. (papel produzido pelo país campeão mundial de produção de papel e celulose e que tem, como consequência, os rios mais poluídos do mundo).

 

INFLUÊNCIA DO CLIMA:

Outro fator que as estatísticas não levam em consideração é quando comparam demandas em estados com características geográficas, demográficas e culturais bastante diferentes:

ESTADO

DEMANDA (litros por habitante por dia)

Ceará

128

Rio de Janeiro

253

Fonte: Folha de S Paulo 08/02/2015

Não tem muito sentido a comparação entre o estado do Rio de Janeiro, compacto e com boa distribuição de rede pública de abastecimento de água com o estado do Ceará, grande e com a maior parte da população não tendo esse benefício.

Devemos levar em consideração também o clima. Regiões quentes habituam a população a mais banhos por dia. Nas regiões frias como o Alasca e a Rússia as pessoas tomam muito menos banho por mês.

Sinais de modernidade como a coleta de lixo domiciliar também devem ser levadas em consideração nesses comparativos de demanda. Nos Estados Unidos da América e no Canadá, muitas cidades não fazem a coleta do lixo orgânico com caminhões, como é feita por aqui. O lixo orgânico é despejado na pia da cozinha que dotada de triturador moe o lixo orgânico (resto de comida, casca de frutas, bagaço etc.) e com o auxílio da água, a mistura é transportada por tubulações junto com o esgoto doméstico. São milhares de ruidosos caminhões substituídos por silenciosas tubulações subterrâneas. O lixo orgânico não é poluente, isto é, não causa a poluição de rios sendo alimento para a fauna aquática,

Veja a demanda de água em algumas cidades de clima frio do Canadá. Observe que os valores da demanda per capita são consideravelmente superiores do que aqueles que estamos acostumados a ouvir por aqui:

CIDADE DO CANADÁ

DEMANDA (litros por habitante por dia)

New Foundland

561

New Brunswick

415

British Columbia

440

Quebec

386

Ontario

271

Nova Scotia

270

Territories

268

Alberta

257

Prince Edward Island

185

 

A demanda de água per capita, isto é, quando o uso de água de toda cidade é dividida pelo número de habitantes fixos pode indicar o grau de "civilidade" daquele povo.

DEMANDA DE ÁGUA POTÁVEL POR ABASTECIMENTO PÚBLICO - m³/seg

CATEGORIA DE USO

DEMANDA PER CAPITA

POPULAÇÃO - Número de Habitantes

1.000

500.000

1.000.000

15.000.000

20.000.000

25.000.000

DEPENDE DA CULTURA e HÁBITOS. Hábitos saudáveis implicam em maior uso

Beber e Comer

110

 0,001

  0,58

1

9

23

29

Consumo Básico

150

 0,002

  1,16

2

17

46

58

Algomerado Urbano

200

 0,003

  1,55

3

23

62

77

Metrópoles

600

 0,009

  4,64

9

70

186

232

Grandes Metrópoles

800

 0,012

  6,19

12

93

247

309

Cidades Turísticas I

1000

 0,015

  7,73

15

116

309

387

Cidades Turísticas II

1200

 0,019

  9,28

19

139

371

464

UM DOS MAIORES SISTEMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DO MUNDO:

O Sistema Cantareira de Captação e Tratamento de Água foi projetado na década de 60 quando a região metropolitana de São Paulo tinha 9 milhões de habitantes.

Considerado um mega-sistema (na época, o maior mundo), acrescentaria um volume de 33 m3/segundo que somado aos sistemas existentes dotaria a Grande São Paulo com água em abundância para um horizonte de 16 milhões de habitantes. Na década de 60 era difícil imaginar como seria uma metrópole com 16 milhões de pessoas - Para que lado e aonde caberiam novos 7 milhões que somados aos 9 milhões totalizariam, no futuro, 16 milhões de pessoas vivendo da região metropolitana de São Paulo, composta por 39 municípios.

Depois da inauguração do Cantareira em 1973, a região metropolitana de São Paulo não recebeu mais nenhum novo sistema de captação. Esse mesmo sistema que tem capacidade para atender 16 milhões vem tentando, a duras penas, atender 22 milhões de sedentas pessoas, nos dias de hoje (2016).

Qualquer sistema que possa não só recuperar a demanda reprimida como também comportar uma folga para, por exemplo 3 milhões de futuros moradores, isto é, a Grande São Paulo com 25 milhões de pessoas e melhorando um pouco os hábitos como lavar as mãos antes das refeições e fazer a higiene bucal depois, nos restaurantes, lanchonetes e shopping centers, enxergamos uma demanda de pelo menos 309 m3/segundo.

Deveríamos ter hoje (2016), portanto, a preocupação de construir uma nova captação com capacidade de pelo menos 239 m3/segundo. Para quem tem apenas 70, isto parece ser um “grande” desafio. Na região metropolitana da Grande São Paulo, ao contrário do que dizem certos homens públicos, há água suficiente e em abundância para o abastecimento público. Só o rio Tietê que, como o Tâmisa em Londres e o Sena em Paris, corta a cidade bem ao meio oferece uma média de 900 m3/segundo, volume que poderia garantir por muitas décadas o pleno abastecimento de água. Infelizmente não é utilizável pois nada de efetivo se faz para evitar que o rio Tietê seja poluído. Os sucessivos governos estão sempre na política demagógica do tipo “podem poluir à vontade, que nós (o governo) trataremos de tratar a água poluída e, assim, despoluir o rio Tietê tornando-o útil para a metrópole”.

O CASO NOVA YORK:

Veja o como o assunto foi tratado em Nova York. (https://www.ecodebate.com.br/2010/10/04/nova-york-nao-tem-estacao-de-tratamento-e-consome-agua-limpa/ e https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/11/nova-york-investe-em-preservacao-para-garantir-abastecimento-de-agua.html )

Nos últimos 100 anos, Nova York enfrentou cinco grandes secas e teve que aprender com o trauma. A cidade investiu num ambicioso sistema de captação, que hoje fornece água de qualidade, uma das melhores dos Estados Unidos. A população bebe direto da torneira, não há caixas d'água nas casas.

Para garantir a pureza, Nova York comprou terrenos em regiões de mananciais no interior do estado. A área preservada já é equivalente à metade do município do Rio de Janeiro. A aquisição de terras ganhou força nos anos 80, quando o governo federal pressionou a cidade a seguir novos padrões de qualidade da água.

Para não construir caríssimas estações de tratamento de água gastando mais de US$ 10 bilhões, a saída foi manter as nascentes livres da ocupação humana e da poluição. As fazendas da região tiveram de mudar a rotina. Uma delas recebeu da prefeitura o equivalente a R$ 3 milhões em benfeitorias.

A vegetação foi plantada na beira do córrego para reter os detritos que descem com a água da chuva. Assim, o córrego segue livre de contaminação porque os animais são mantidos longe das margens. Eles não bebem mais água lá. O reservatório de água fica no alto da montanha. O esterco das vacas agora é armazenado em um depósito, bancado pela prefeitura.

O esforço para manter a água limpa inclui investimento pesado nas estações de tratamento de esgoto dos municípios da bacia.

Diane Galusha, da ONG que administra os investimentos, diz que tudo é uma questão de economia. "Nova York percebeu que preservar é mais inteligente e barato do que limpar", diz.
Esse ano, mesmo com chuva abaixo do normal, o abastecimento na cidade não foi comprometido.

“A palavra de ordem é planejamento estratégico que leve em conta as alterações do clima. Há uma sazonalidade na ocorrência das chuvas, na vazão dos rios com períodos de pouca chuva e rios baixos mas esta pouca água não implica, necessariamente, em falta água para a população”, conta o futuro relator do direito à água da ONU, Leo Heller.

Acredite se quiser, mas Nova York não tem uma única estação de tratamento de água. A água que sai das torneiras para abastecer seus de habitantes e turistas vem direto da natureza, escoada por tubulações que descem das montanhas Catskills a 200 quilômetros ao norte da cidade, sem necessidade de tratamento. Recebe apenas uma injeção de cloro, para cumprir a legislação, e uma pitada de flúor, para fortalecer os dentes. Nada mais.

Nos restaurantes de lá, quando o cliente pede água, é comum o garçom perguntar: “Bottle or tap?”, garrafa ou torneira? A qualidade é a mesma; só muda o preço. A da torneira é de graça, claro. Na cidade ícone do capitalismo mundial, água limpa ainda é o bem de consumo mais precioso de qualquer cardápio.

A receita secreta da Big Apple, que metrópoles no mundo inteiro tentam copiar, é a conservação. Na década de 90, quando a economia regional melhorou e o crescimento populacional começou a ameaçar o abastecimento de água da cidade, Nova York se viu diante de duas opções:

A - construir estações de tratamento ou
B - proteger suas represas da poluição.

Fez as contas e optou pela segunda. Comprou terras no entorno dos reservatórios e passou a financiar programas de boas práticas agrícolas na zona de influência do manancial.

Se você já ouviu falar de “pagamento por serviços ambientais”, mas não sabe exatamente o que significa, o conceito é exatamente esse: em vez de pagar uma empresa para despoluir a água, a cidade paga a natureza para mantê-la limpa. Ou melhor: compra terras e paga aos proprietários que vivem em torno dela para não poluí-la. E assim a natureza continua fazendo o que sempre fez de graça: captar a água da chuva, filtrá-la no subsolo e jogá-la de volta na superfície, limpinha e cristalina para nós.

É muito diferente do que acontece na região das represas Guarapiranga e Bilings onde os governos fizeram, fazem e provavelmente continuarão a fazer vistas grossas e permitem a ocupação irregular de suas margens onde a população clandestina joga in-natura seu esgoto nas águas das represas. Veja uma foto da região. Toda a área deveria, repito deveria, ser uma enorme área verde sem nenhuma ocupação humana, entretanto a ocupação irregular avança até a borda da represa, esgotos correm a céu aberto colocando em risco não apenas a saúde da população como também a saúde da represa:

E não pensem que a foto acima é apenas um pequeno braço da represa. A próxima foto mostra como está tomada toda a região que deveria estar protegida:

Como é possível constatar nas fotos de satélite, os municípios de Diadema e São Bernardo do Campo ocupam área que deveriam ser preservadas como áreas de mananciais e, portanto, protegidas com legislação restringindo a sua expansão.

Mais triste é constatar, em pleno século XXI, que rodovias que deveriam ser modernas e dotadas de recursos anti-poluição jogam todo o lixo deixado pelos veículos como combustível derramado, óleos e principalmente pó de borracha dos pneus diretamente no reservatório Bilings sem nenhuma preocupação em captar e tratar esses poluentes.

Veja o detalhe de um trecho que passa por sobre a represa Bilings. A água da chuva que lava a pista é lançada diretamente, e sem nenhum cuidado, na represa:

Preferimos manter nossa água limpa em vez de limpá-la”, disse Kathryn Garcia, então diretora de Projetos Estratégicos do Departamento de Proteção Ambiental da prefeitura de Nova York.

As águas dos Rios Hudson e East, que cortam a cidade, também são exemplo de qualidade. Não são potáveis, mas são limpas o suficiente para se navegar e até nadar nelas. Nova York trata 100% do seu esgoto antes de lançá-lo nos rios.

 

O QUE FAZEMOS POR AQUI:

Na Grande São Paulo não é possível se falar em aproveitamento dos recursos hídricos pois tratamos apenas 66% do esgoto da cidade de São Paulo. Pior é que na região metropolitana, quando se incluí as demais cidades, o tratamento de esgoto cai para apenas 37% do esgoto.

Cidades populosas, importantes e grudadas em São Paulo, como Guaruhos inaugurou a sua Primeira Estação de Tratametno de Esgotos somente no ano de 2010. Veja uma foto do principal rio de Guarulhos, o Cabuçu de Cima desaguando suas águas negras e fétidas no rio Tietê:

O rio Cabuçu, que é um rio pertencente ao Município de Guarulhos joga toda a sua água sem nenhum tratamento diretamente do rio Tietê e o mais irônico é que existe uma enorme e moderna Estação de Tratamento de Esgoto bem do lado da foz do rio Cabuçu, só que do lado do Município de São Paulo. (A concessionária de São paulo é a SABESP e a de Guarulhos é a SAAE) Veja uma foto aérea:

Para quem não conhece a região, fica difícil identificar os elementos mencionados. Então aplicamos os identificadores sobre a foto. Observe que o rio Cabuçu desemboca no rio Tietê bem ao lado da estação de tratamento de esgoto do Parque Novo Mundo:

A ironia se explica: O saneamento básico da cidade de Guarulhos é feita pela SAAE, uma empresa municipal enquanto que o de São Paulo é feita pela SABESP, uma empresa estadual. Não seria muito difícil, creio eu, fazer um acordo político entre os governos de Guarulhos e de São Paulo para tratar toda a água suja e poluída do rio Cabuçu na estação de tratamento do Parque Novo Mundo, beneficiando esse já muito sofrido rio Tietê.

 

NOSSOS HÁBITOS PESSOAIS:

Outra questão importante é a mudança de hábitos.

Populações em geral de países em desenvolvimento (em outra época chamado de subdesenvolvido) não costumam lavar as mãos antes das refeições e nem fazer a higiene bucal depois das refeições. Compativelmente com este costume, os restaurantes, bares e praças de alimentação de shopping centers oferecem instalações sanitárias pobres, insalubres e sujas:

mal conservadas e em geral com o ralo entupido. Para a secagem oferecem secadores de ar quente, ruidosos que consomem muita eletricidade com a desculpa de economizar papel (dizem que é para colaborar com a ecologia):

  Imagem captada na internet

Aparelhos que fazem os usuários perderem um tempo precioso, em fila para usar o secador, descompensando a ida ao “fast-food” cuja intenção era ganhar tempo. O pior é caso o usuário resolva lavar o rosto por causa do suor tropical não há como enxugar o rosto.

Felizmente, o mundo evolui e já é possível encontrar, mesmo no Brasil, praças de alimentação de shopping centers com Hand Wash Place, isto é, locais próprios para a lavagem das mãos ali mesmo no meio das mesas, sem que os usuários tenham que caminhar até longíquos Toilets. Em alguns shoppings o toilet fica em outro andar.

Há shoppings cuja Praça de Alimentação é dotada de lavatório com toalhas. Veja um caso real:

É possível também encontar instalações sanitárias decentes com locais para a colocação de óculos e outros objetos como embalagem de creme dental para que o usuário realize a necessária e saudável higiene bucal após a refeição:

Há ainda incovenientes como a ausência de um local para pendurar o blazer ou casaco, apoiar a sacola e bolsa e, pela má disposição construtiva, sempre encontramos poças de água sobre a pia.

 

UMA SUGESTÃO:

Veja uma idéia dos componentes necessários em um Lavatório onde a preocupação principal foi minimizar a necessidade de atuação da limpeza e conservação. Fica aqui esta sugestão para os vereadores municipais criarem uma Lei para as instalações mínimas de um Sanitário Público em Rodoviárias, Shoppings, Supermercados e Sanitários Públicos. Lembrem-se que as instalações sanitárias de rodoviárias é "primeiro contato" que o viajante tem com a cidade e essa primeira impressão é a que mais marca a imagem da cidade visitada. Depois de muitas horas sendo obrigado a fazer as necessidades fisiológicas naquele toilete horrível do ônibus o viajante espera poder ficar aliviado numa instalação sanitária decente.

ENERGIA ELÉTRICA

Saiba em que lugar do mundo há eletricidade farta, confiável e 100% renovável

 Conheça os recursos hídricos do Brasil e porque causa tanta inveja aos países do primeiro mundo.
ROTARY INTERNATIONAL

Veja uma matéria sobre ÁGUA na edição de março de 2020 da revista do Rotary.
CALHAS E CONDUTORES

Você enfrenta problemas com as calhas da sua casa que sempre vazam?
 

NOTA: Este site é mantido pelo engenheiro Roberto Massaru Watanabe que participou do projeto do Sistema Cantareira de Abastecimento de Água para a Grande São Paulo, Sistema de Captação, Tratamento e Abastecimento de Água da fábrica da Aracruz Celulose no Espírito Santo, Emissário Submarino de Esgoto da cidade de Santos e da Simulação dos Recursos Hídricos do Alto Tietê e, pela finalidade pedagógica, pode ser livremente copiado, distribuído e impresso.

\RMW\recursoshidricos\UsoDaAgua.htm em 21/03/2013, atualizado em 16/05/2021.

    RMW-12243-24/11/2024