COMO CONSTRUIR UM TELHADO

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ESTALIDO

Entende-se como ESTALIDO o som produzido por um estalo e entende-se como RANGIDO o som produzido por um ranger.

Tanto o estalo como o rangido são sons, na verdade ruídos, produzidos por peças submetidas a esforços além do limite.

No caso de telhados, o estalido e o rangido são sintomas de que alguma coisa não está boa na estrutura de sustentação e pode, dependendo do local, significar a ruptura ou a ruína de componentes e partes do telhado.

ENTENDENDO O FENÔMENO

Nem sempre o estalo apresenta vestígios facilmente detectáveis. Também, não é sempre que se ouve um estalido. Há estalidos que se ouvem toda manhã. Há estalidos que se ouvem de madrugada. Há estalidos que se ouve em dias de chuva. Há estalidos que não dá tempo para ouvir.

Especificamente no caso de estruturas de madeira, o estalido é um som produzido por uma peça submetida a um esforço, que pode ser um impacto (corpo batendo em outro corpo) ou alongamento seccionado, isto é, o alongamento do corpo que é bloqueado (seccionado) por algum obstáculo que não permite um deslizar suave. Ao sofrer um bloqueio, a peça começa a acumular energia até que a energia acumulada venha a ser maior que a energia de resistência oferecida pelo bloqueio. Ultrapassando a força de resistência a peça se alonga instantaneamente soltando um som.

Exemplo de bloqueio pelo atrito:

Ao continuar com a tendência ao alongamento, a peça acumula mais energia, encurvando mais até o instante que pode acontecer uma de duas coisas:

A - A peça não aguentou o encurvamento e se rompe;

B - O obstáculo não consegue segurar e a peça se alonga instantaneamente, soltando um ruído característico.

Outra situação é quando o "bloqueio" é feito justamente pela resistência mecânica da peça e o aumento da energia atuante produz a rompimento da peça.

Exemplo de carga acima da resistência (foi aplicada uma força acima do que a peça aguenta):

Exemplo de diminuição da resistência (a peça teve a sua resistência diminuída):

Os dois desenhos acima são absolutamente iguais, mas no caso de estrutura de madeira, muitos casos de ruptura de peças ocorre por "perda de resistência" pois a madeira sofre agressões do meio ambiente como a umidade e as pragas.

Muito diferente são os telhados sustentados por Estruturas Metálicas. As estruturas metálicas também caem mas os fenômenos envolvidos são bastante diferentes daqueles tratados neste capítulo.

A diferença entre ESTALIDO e RANGIDO está na forma que se manifestam. O estalido, geralmente, é único enquanto que o rangido são diversos estalidos que ocorrem de forma contínua. Uma porta, por exemplo, cuja dobradiça está sêca, produz uma série de pequenos estalidos que chamamos de rangido.

Outra situação de sucessão de pequenos estalidos é o rangido emitido por um assoalho de madeira.

CASOS:

Apresento diversos casos de estalido que presenciei nas minhas vistorias. Relembrando o nome das peças ...

CASO 1 - Apoio da tesoura diretamente sobre a parede.

A tesoura é, geralmente, o componente mais extenso (comprido) do telhado. É, por conseguinte, a peça que apresenta os valores mais elevados de alongamento. Para absorver, adequadamente, esses movimentos a tesoura requer "aparelhos de apoio" capaz de acompanhar os movimentos sem introduzir esforços horizontais danosos nas paredes, vigas ou pilares.

Além disso, o ponto de apoio da tesoura sobre a parede é local crítico pois passam calhas que costumam entupir ou transbordar por falta de uma boa drenagem ou um bom dimensionamento.

CASO 2 - Apoio da tesoura fora do alinhamento da parede.

É difícil acomodar empena chegando na linha, calhas, condutores, etc. tudo num mesmo local apertado. A foto abaixo mostra um caso em que o encontro da empena com a linha, o nó, ficou sem apoio. Neste caso a realidade imitou a teoria e o rompimento ocorreu bem no nó.

Ainda bem que o local não tinha forro e o usuário ao ouvir um estalo foi ver e descobriu a linha se rompendo e a tempo de colocar uma escora antes que o telhado todo viesse abaixo. Ufa! DESASTRE EVITADO.

Imagine se o local tivesse forro e não fosse possível "ver" a linha rachando.

CASO 3 - Empena sem apoio estrutural na linha.

O correto é a empena ser encaixada num entalhe que se faz na linha para evitar o "escorregamento" da empena. Quanto "mais baixo", isto é, quanto menor a flecha do telhado, maior será a força horizontal que a empena deve transferir para a linha.

Dependendo do valor dessa força, devemos reforçar o nó com uma ferragem tipo grampo:

Deficiências no encontro da empena com a linha produz resultados catastróficos com o desabamento, quase geral, do telhado.

CASO 4 - Força de compressão no pendural.

Como vimos, o pendural tem esse nome justamente por que ele fica "pendurado", agindo nele apenas forças de tração.

Já vi tesouras em que o pendural  não tem os encaixes por onde ele possa transferir a tração que ele recebe da linha para as empenas.

O resultado é o "escorregamento" do pendural por entre as empenas causando o desabamento total do telhado.

Muitas vezes, esse escorregamento é causado pelo excesso de peso (forros, luminárias, intalações de ar condicionado, etc.) tudo fixado na linha.

Mais detalhes em http://www.ebanataw.com.br/roberto/telhado/tlhcur3.htm

CASO 5 - Terça apoiada na empena, porém sem suporte inferior.

É relativamente comum encontrarmos situação de empena não possuir qualquer apoio da região de apoio da terça:

É grande a força aplicada pela terça sobre a empena. A terça concentra boa parte do peso do telhado. Para não produzir esforços de flexão na empena, inserimos uma DIAGONAL que vai dividir o peso aplicado pela terça, uma parte na empena e outra parte na diagonal.

Para que essa divisão seja feita de forma adequada, é importante assegurar o perfeito alinhamento dos centros de gravidade das peças que chegam no nó.

Havendo outra terça na mesma empena, o raciocínio deve ser repetido. Examine, com cuidado, o desenho a seguir para entender como os pesos aplicados pelas terças na empena caminham pela tesoura até chegar aos pontos de apoio nas paredes laterais. Observe que em todos os nós da tesoura as linhas dos centros de gravidade se encontram num único ponto.

CASO 6 - Terça sem Chapuz.

Talvez até por esquecimento, pode acontecer de terças não serem apoiadas por chapuzes. São casos preocupantes pois o movimento diário de dilatação e retração do telhado produz pequenos deslocamentos que vão empurrando os caibros para baixo, com deslocamento ou com rotação das terças.

O movimento é lento e pode demandar um bom par de anos até atingir a situação crítica de tombamento da terça. Vindo a ocorrer, o tombamento é repentino, não há aviso prévio, e todo o peso das telhas (principalmente em dias de chuva) cairá sobre as empenas com impactos que poderá levar o telhado à ruina.

Veja um desenho mostrando as terças girando:

Mais detalhes em http://www.ebanataw.com.br/roberto/telhado/tlhcur7.htm

CASO 7 - Linha solta, sem ligação com o pendural - Falta de Estribo.

A linha é a peça que costuma receber as cargas externas como forro, luminárias, dutos de ar condicionado e outros penduricalhos.

Quanto mais velho o prédio, mais penduricalhos serão pendurados no forro.

Mais detalhes em http://www.ebanataw.com.br/roberto/telhado/tlhcur10.htm

 

\RMW\telhado\tlh1.htm em 09/01/2005, atualizado em 29/11/2013 .