A AÇÃO DO VENTO NO TATUAPÉ |
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O bairro do Tatuapé, localizado na zona leste da capital de são Paulo teve uma parte estudada no Túnel de Vento do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) para analisar as interferências danosas da nova lei do zoneamento que passou a permitir prédios mais altos.
Veja matéria extraída do site do IPT:
Mais edifícios, menos ventilação
Instrumento básico da política de
desenvolvimento urbano, o Plano Diretor é determinante para todos os
agentes públicos e privados atuantes nos municípios e pode afetá-los
em diferentes aspectos. Um estudo realizado no Instituto de
Pesquisas Tecnológicas - IPT abordou um deles – a
ventilação e a concentração de poluentes devido à verticalização – e
mostrou que as alterações trazidas pelo novo Plano
Diretor Estratégico do Município de São Paulo, aprovado em julho de
2014, para a construção de edifícios de múltiplos
andares não devem trazer melhorias significativas no escoamento
natural dos ventos e podem até mesmo prejudicar as condições atuais
de circulação do ar nos bairros em que a verticalização se torna
cada vez mais parte do cenário urbano.
A conclusão está em um estudo
comparativo realizado por simulação computacional e
também por ensaios experimentais no
túnel de vento
do Instituto de Pesquisas Tecnológicas que considerou
as
condições de ventilação
no entorno de uma unidade da Faculdade de Tecnologia de São Paulo, a
Fatec Tatuapé – Victor Civita, localizada no bairro do Tatuapé na
zona leste da cidade, em um raio de 250 metros.
O estudo foi feito
como trabalho de graduação pelas estudantes Paula
Bregiatto de Oliveira, estagiária do Laboratório de
Vazão do IPT, e Roberta dos Santos Astigarraga
para conclusão do curso
Tecnologia em Construção de Edifícios
da Fatec, e teve a orientação de um
pesquisador do Instituto, o físico Gilder Nader.
“A verticalização pode ser considerada como uma barreira para o
escoamento natural do vento, impedindo a circulação adequada do ar e
gerando ilhas de calor e concentração de contaminantes”,
explica Paula.
A escolha da
área foi motivada por ser uma região topograficamente ainda
baixa do bairro, mas sob processo de verticalização, pouco
arborizada e que sofre com temperaturas elevadas – a tese de
doutorado ‘Ilhas de Calor da Metrópole Paulistana’,
de Magda Lombardo, livre-docente em qualidade ambiental na
Universidade de São Paulo (USP), indicava já em 2000 que a área
mais quente da cidade estava localizada entre o centro e a Zona
Leste, justamente a de menor cobertura vegetal.
Para que ocorra o crescimento vertical nas áreas urbanas de um município, alguns parâmetros devem ser adotados de acordo com o Plano Diretor, o qual limita a altura dos gabaritos, variando os valores dos coeficientes de aproveitamento de acordo com a região.
O plano de 2002 permitia até então para o bairro do Tatuapé o coeficiente de aproveitamento máximo de quatro vezes a área do lote, ou seja, edifícios poderiam ser construídos com até quatro vezes a área do terreno.
O novo Plano Diretor baixou o coeficiente para dois
– ou seja, em um terreno de cinco mil metros quadrados de área, por exemplo, a
área construída será no máximo de 10 mil metros quadrados.
METODOLOGIA –
Três condições foram simuladas nos ensaios experimentais e nos computacionais. A
primeira contemplou a situação atual da região, somente com os prédios
existentes; a segunda considerou as diretrizes permitidas pelo Plano Diretor que
havia sido instituído pela lei municipal 13.430/02 e teve duração de 12 anos,
com os prédios variando em torno de 40 metros de altura e 15 metros de largura e
comprimento; e a terceira baseou-se no novo Plano Diretor aprovado em julho de
2014, com prédios na faixa de 25 metros de altura e 10 metros de largura e
comprimento. “Estes ensaios não se basearam no pressuposto de que irá ocorrer
uma verticalização daqui a 20 anos. Partimos para uma situação extrema com a
verticalização de até quatro vezes a área, que seria possível caso a expansão
imobiliária seguisse as diretrizes previstas no plano de 2002”, explica Nader.
Para
o ensaio em túnel de vento, a área escolhida foi modelada em maquetes na
escala de 1:500 e foram realizados Ensaios de Saltação de Areia,
enquanto a simulação computacional foi feita na escala real
utilizando o software ENVI-met. “A técnica de saltação permite a análise
qualitativa da ventilação no nível do pedestre, enquanto a simulação
computacional fornece dados quantitativos de velocidade e temperatura”, completa
Paula.
Os ensaios de saltação de areia são
comumente realizados a fim de verificar o comportamento de partículas de areia
depositadas sobre uma maquete sob ação do vento. A areia contribui para a
visualização da intensidade do vento no entorno dos edifícios, seja do vento
defletido para baixo, pelas fachadas dos prédios, da canalização do vento entre
prédios ou de pontos de estagnação do escoamento.
Cada ensaio feito no túnel de vento do IPT foi composto por 11 velocidades distintas e deu origem a 11 imagens, uma para cada velocidade – uma décima-segunda foi feita ainda no início do ensaio, antes da ação do vento, para a captação da imagem do modelo sem a erosão de areia. Todas as imagens coletadas em um mesmo ensaio foram somadas e o processamento foi executado em software desenvolvido pela equipe técnica do Instituto, fornecendo um mapa de cores de velocidades, indicando regiões com boa e má circulação de ar.
Para a calibração do software ENVI-met ao clima de São Paulo, o estudo tomou como referência as condições climáticas observadas em 2 de janeiro de 2014, que havia sido o dia mais quente do ano na cidade até a data do processamento dos dados.
O site do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) forneceu os dados correspondentes ao horário do meio-dia (momento em que a temperatura atingiu 35,7°C) como velocidade/incidência do vento e umidade relativa, para que fossem estudadas as situações mais críticas de temperaturas.
Cada uma das simulações no software durou aproximadamente 48 horas, por conta da grande quantidade de informações disponibilizadas pela ferramenta.
As simulações computacionais tomaram como base as
direções dos ventos sudeste e leste, o primeiro por se
tratar de um vento preferencial na cidade de São Paulo
[Direção Predominate] e o segundo pela sua presença na Avenida
Radial Leste que corta o bairro [correndo em paralelo com as
linhas de trens da CPTM]. “Um mapa de cores foi gerado, fornecendo informações
de temperaturas e velocidades do vento em diferentes pontos, e os resultados
serviram para fazer uma comparação com as informações coletadas nos ensaios de
saltação de areia”, explica Paula.
DUAS FERRAMENTAS – Os
resultados dos ensaios mostraram que as diretrizes do Plano Diretor de 2014
trazem pequenas melhorais na questão da ventilação em comparação ao plano de
2002, mas o cenário atual na região é o melhor de todos em comparação aos
dois cenários permitidos de verticalização. “Ao atingir a velocidade máxima do
ensaio de saltação de areia na configuração do bairro nos dias de hoje, não
sobrou praticamente material na maquete, o que indicou uma ventilação adequada
na região. Quando foram feitas as duas simulações de verticalização, os
resultados foram muito parecidos e foi possível verificar o acúmulo de areia em
diversos pontos – ou seja, não houve uma ventilação adequada”, afirma
Nader.
Nos cenários de construção de prédios no limite
máximo, permitidas nos Planos Diretores de 2002 e de 2014, a má
ventilação urbana ocorreu em várias áreas, principalmente na
parte sudoeste [proximidades da praça Silvio Romero] dos modelos reduzidos
nas quais se encontra a maioria das edificações da região e é o principal local
atualmente em processo de verticalização. Esses pontos com má ventilação indicam
locais que poderão ter acúmulo de contaminantes e
trazer desconforto aos pedestres e moradores dos edifícios, piorando o conforto
ambiental do bairro.
A utilização de duas ferramentas diferentes no
estudo comprova, segundo Nader, a validade dos
resultados: “O ENVI-met é muito utilizado por arquitetos para a realização de
estudos de conforto, mas nem todos têm acesso a um túnel de vento para fazerem
os estudos experimentais. Nesse projeto, procurou-se utilizar ambas as
ferramentas para que uma pudesse validar a outra, além de fornecerem resultados
complementares. A coincidência entre os resultados obtidos validou a
análise realizada”.
CENÁRIO ATUAL – Algumas áreas
críticas em termos de poluição do ar se destacam no estado de São Paulo,
especialmente a Grande São Paulo, na qual os problemas de qualidade do ar
ocorrem principalmente em função dos poluentes provenientes dos veículos,
segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Em
dezembro de 2013, as cidades da região concentravam 48% da frota do estado em
apenas 3,2% do território, e o problema se agrava porque residem aproximadamente
21 milhões de habitantes em suas 39 cidades, o que corresponde a 48% da
população total do estado.
No capítulo do novo Plano Diretor sobre a
regulação do parcelamento, uso e ocupação do solo e da paisagem urbana, uma das
diretrizes é promover o adensamento construtivo e populacional e a
concentração de usos e atividades em áreas com transporte coletivo de média
e alta capacidade instalado e planejado. “Cidades como Paris e New York têm
prédios altos localizados próximos às estações de metrô, o que favorece a
mobilidade urbana. O plano de 2014 incluiu esta questão, mas é preciso saber
como e onde a verticalização será feita, além da direção preferencial dos
ventos, para não piorar a ventilação na região”, afirma Nader. O
estudo continuará em 2015 com foco na variação das alturas dos edifícios e na
arborização da região. "Essa metodologia pode ser reproduzida para avaliação da
verticalização em qualquer cidade", completa ele.
Veja mais detalhes e navegue pelo bairro do Tatuapé [O Bairro do Terceiro Milênio] no Google Maps acessando: www.google.com.br/maps/@-23.5366564,-46.5581477,3a,90y,241.98h,73.49t/data=!3m6!1e1!3m4!1s-1c-LNbexkM76CGz7kNiSA!2e0!7i13312!8i6656
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\RMWvento\VentoNoTatuapé.htm em 13/11/2016, atualizado em 14/11/2016 .