O DESENVOLVIMENTO RODOVIÁRIO NO BRASIL

Fonte: NT-DE-F00-001 de agosto de 2006 do DER - Departamento de Estradas de Rodagem, Secretaria dos Transportes, Governo do Estado de São Paulo.

 

3 BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO GEOMÉTRICO DE VIAS RURAIS E URBANAS

3.1 Início do Século 20

No início do século 20, os veículos de tração animal raramente excediam 13 km/h. A velocidade não era um fator de projeto importante e as curvas eram projetadas em grande parte como concordâncias bruscas ou fechadas entre longas tangentes.

Antes da invenção dos automóveis, o traçado evitava aclives longos e íngremes de forma a reduzir a resistência ao movimento e tirar melhor proveito da capacidade de tração dos animais. Em razão das baixas velocidades de circulação, a distância de visibilidade também não era um critério de projeto importante; além disso, visando a drenagem rápida da via a seção transversal em curvas era sempre coroada.

As principais considerações de projeto para o alinhamento horizontal eram o comprimento e as características de mobilidade dos veículos, especialmente em curvas. As curvas de transição eram pioneiramente usadas apenas nas ferrovias, inicialmente concebidas como uma sucessão de 2 ou 3 curvas circulares com raios crescentes ou decrescentes e posteriormente com a utilização da parábola cúbica e da espiral de Euler, denominada clotóide. Dentre as primeiras publicações que relataram o uso da espiral em traçados ferroviários, podem ser destacadas, nos Estados Unidos, Railroad Alignment por Eliot Holbrook na Railroad Gazette (1880) e The Railroad Spiral por W. H. Searles (1882), e, na Alemanha, Theory of the Alignment por Launhardt (1887).

As vias destinadas a veículos de tração animal começaram a ser adaptadas para circulação de veículos automotores à medida que estes passaram a ser fabricados em maior escala.

O primeiro congresso internacional de rodovias foi realizado em Paris em 1908, produto do esforço conjunto de 30 países; os princípios fundamentais de projeto geométrico de vias de transporte começaram a ser discutidos em textos técnicos de engenharia por volta de 1912 nos EUA.

Em 1920, os EUA já contavam com uma frota de 7 milhões de veículos em circulação, dos quais 1,5 milhões foram produzidos apenas naquele ano. Com isso, o campo da engenharia rodoviária passou a ganhar cada vez mais importância. Durante o quarto congresso internacional de rodovias, realizado em 1923, foram discutidos temas como fiscalização policial, regras e regulamentação de tráfego, e a fixação de limites de velocidade. 

O crescimento expressivo da demanda por veículos automotores conduziu a uma série de medidas de engenharia para o projeto de curvas, curvas de transição, alinhamento vertical, taxas de superelevação, elementos da seção transversal e requisitos para a drenagem da via.

Tais medidas de engenharia iriam se constituir mais tarde na base para os manuais de projeto de diversos países.

3.2 Evolução dos Princípios e Critérios de Projeto Geométrico a partir de 1930

No início da década de 30, vários países passaram a projetar e construir vias rurais e urbanas destinadas exclusivamente a veículos automotores. Na época, os próprios construtores ou autoridades rodoviárias estabeleceram princípios e critérios específicos de traçado para a construção de cada rodovia importante.

Alguns marcos notáveis foram a introdução do conceito de velocidade de projeto, apresentado pela primeira vez nos EUA em 1930, e a publicação na Áustria, em 1935, do primeiro manual rodoviário, intitulado Guidelines of Modern Roads with Mixed Traffic.

Os anos seguintes foram marcados por grandes avanços. O primeiro manual da Alemanha, Preliminary Guidelines for the Design of Rural Roads – RAL, foi publicado em 1937. Em 1940, a então American Association of State Highway Officials – AASHO publicou sete documentos estabelecendo formalmente as premissas e critérios que passaram a constituir o primeiro manual abordando aspectos específicos do projeto geométrico de rodovias. Em 1943, a publicação Building Instructions for National Autobhnen - BAURAB TG estabeleceu instruções de projeto e princípios de alinhamento para vias expressas na Alemanha.

Com base no manual publicado em 1937 e no BAURAB TG, as versões modernas de manuais de projeto geométrico começaram a ser desenvolvidas na Alemanha a partir do ano de 1959; tais versões vêm sendo atualizadas e complementadas naquele país ao longo das últimas décadas.

O manual da AASHO de 1940 foi atualizado e complementado em 1954, 1965 e 1971; desde então vem também sendo revisado e complementado pela American Association of State Highway and Transportation Officials - AASHTO, com as publicações de 1984, 1990, 1994 e 2004. Muitos de seus critérios estão baseados em leis da Física e em hipóteses e premissas conservadoras assumidas para o motorista, o veículo e a via. Embora algumas premissas tenham mudado em versões mais recentes do manual da AASHTO, a maior parte dos modelos básicos considerados continua igual à da versão de 1940.

É interessante destacar que, já em 1946, uma comparação entre os critérios estabelecidos nos EUA e na Inglaterra revelava uma diferença básica na elaboração de projetos. A AASHO estabelecia uma velocidade de projeto a ser aplicada à totalidade do traçado da rodovia planejada, enquanto as normas inglesas salientavam adicionalmente que a velocidade ao longo do traçado, por ser afetada pelos parâmetros geométricos e pelas condições do entorno da via, não é constante e que, portanto, o motorista deve ajustar sua velocidade de acordo com a geometria do trecho já percorrido e com as características geométricas da curva adiante a ser percorrida.

Em 1976, realizou-se em Helsingoer, na Dinamarca, um simpósio organizado pelo Office of Economic and Cultural Development - OECD, sob o título Methods for Determining Geometric Design Standards. Este evento visou proporcionar aos pesquisadores e profissionais da área a oportunidade de trocar experiências e idéias acerca de como o projeto geométrico da via está relacionado com a segurança do tráfego, economia, impactos ambientais e consumo de energia.

Nos últimos dez anos foram realizados três importantes Simpósios Internacionais de Projeto Geométrico: o primeiro deles em 1995 em Boston (EUA), o segundo em 2000 em Mainz (Alemanha) e o terceiro em 2005 em Chicago (EUA). Todos tiveram como objetivo básico estimular a melhoria das práticas de projeto geométrico em termos mundiais, através da apresentação e discussão das mais recentes pesquisas desenvolvidas na área, bem como do relato das atualizações e complementações que vem sendo realizadas em normas e instruções de projeto de diversos países.

No Brasil, os primeiros textos técnicos e instruções de projeto para o projeto geométrico de rodovias surgiram nos anos 40 e 50, baseados, em sua maioria, em traduções de publicações estrangeiras. As Portarias no. 19 e 348 do Ministério da Viação e Obras Públicas, de 10/01/1949 e 17/04/1950, estabeleceram o primeiro conjunto de “Normas para o Projeto de Estradas de Rodagem”. Em 1957 a Editora Científica publicou a 1ª. edição do “Curso de Estradas – Estudos, Projetos e Locação de Ferrovias e Rodovias” de M. Pacheco de Carvalho.

Os primeiros manuais de abrangência nacional surgiram nos anos 70. Dentre estas publicações destacam-se o Manual de Projeto de Engenharia Rodoviária e as Instruções para o Projeto Geométrico de Rodovias Rurais, publicados pelo extinto DNER respectivamente em 1974 e 1979. A versão mais recente e difundida de tais publicações é o Manual de Projeto Geométrico de Rodovias Rurais(1), que foi editado pelo DNER em 1999. Dentre outras várias publicações deste órgão, destacam-se as Instruções, Critérios e Normas integrantes dos Manuais de Serviços de Consultoria para Estudos de Projetos Rodoviários, de 1978. Estas publicações sofreram poucas atualizações e complementações nas últimas décadas. Mais recentemente, em 2005, o DNIT, através do Instituto de Pesquisas Rodoviárias - IPR, publicou o Manual de Projeto de Interseções (2).

O DER/SP foi um dos órgãos pioneiros a estabelecer e difundir critérios e parâmetros de projeto para rodovias rurais, tendo publicado na década de 60 um compêndio com tradução e adaptação de normas americanas e francesas para o projeto de auto-estradas, elaborado por equipe de técnicos que integrou a Comissão CMG-44. Embora se destinasse ao uso interno e exclusivo dos engenheiros do Departamento, esta publicação tornou-se uma das principais fontes de consulta da época. Em 1972 o DER/SP publicou o Manual de Projeto para a Construção do Anel Rodoviário de São Paulo (3), que passou a ser uma das referências de maior abrangência e destaque da engenharia rodoviária na ocasião.

Ao longo dos últimos 60 anos, vários países adaptaram, refinaram e atualizaram seus manuais e instruções para refletir as condições prevalecentes em nível nacional e também as suas experiências de operação. A velocidade de projeto continua sendo um parâmetro referencial básico do projeto dos alinhamentos da via, mas atualmente já há novos conceitos acerca de como esta deve ser selecionada e aplicada. Vários países já reconheceram a necessidade de que a velocidade de projeto esteja mais diretamente relacionada com o comportamento real dos motoristas e que sejam feitas verificações das velocidades operacionais previstas de ocorrerem ao longo do traçado.

ET-12\RMW\trafegando\historico.htm em 18/12/2011, atualizado em 18/12/2011 .