Carnaval 2005 em São Paulo

Desfile da Escola de Samba Leandro de Itaquera no Grupo Especial homenageando o trabalho voluntário do Rotary International

A MONTAGEM DO DESFILE

 

A montagem começa na quinta-feira, logo depois da quarta-feira de cinzas.

Mal descansou das atividades do carnaval, os componentes da escola de samba já começam a trabalhar para o carnaval do ano seguinte.

As fantasias, as alegorias e os carros alegóricos são desmontados e as peças que poderão ser usadas no carnaval seguinte são cuidadosamente embaladas e guardadas.

PRIMEIRO PASSO: Escolha do Tema do Desfile.

Mais ou menos em torno do mês de julho é feito um concurso para a escolha do Tema para o Desfile da escola de samba.

É um momento de muita disputa. Como em qualquer entidade existe sempre um grupo mais conservador e outro mais progressista. A escolha e precedida de muita discussão e provocação.

Feita a escolha do tema, a escola começa a trabalhar em torno do Samba Enredo.

SEGUNDO PASSO: A pesquisa e levantamento de dados.

A INTERNET trouxe muitas facilidades para o levantamento de dados sobre o Tema do Desfile.

Antigamente, só haviam as Bibliotecas Públicas para se fazer a pesquisa e o levantamento de dados. Quanto o Tema é ligado à História, até que é possível encontrar muitos dados nas bibliotecas públicas, mas quando o tema refere-se a comunidades indígenas, ao folclore e outros temas específicos fica difícil encontrar os dados confiáveis e realísticos.

Diversos grupos saem pesquisando e levantando dados sobre o tema e cada grupo compõe a sua proposta para o Samba Enredo.

TERCEIRO PASSO: Convencendo a comunidade sobre o Samba Enredo.

Mais uma vez, cercado de grandes discussões e provocações é feita a escolha do Samba Enredo.

A letra, o ritmo, a cadência, a evolução e muitos outros fatores devem ser levados em consideração para se ter um BOM Samba Enredo. Afinal é o Samba Enredo que vai motivar, provocar, contaminar a alegria, passar a mensagem e marcar, no povo, a passagem da escola de samba.

Baseados no mesmo Tema, diversos autores apresentam, justificam e defendem seus Samba-Enredos.

Feita a escolha do Samba Enredo, a escola começa a trabalhar na confecção das fantasias, dos adereços e dos carros alegórios.

QUARTO PASSO: As Alas.

As Alas representam os Capítulos da história que a escola conta para os expectadores da avenida.

Deve haver um encadeamento lógico na sucessão das alas. Em geral o encadeamento é cronológico, isto é, começa contando a história no princípio dos tempos e depois vai contando o que aconteceu ao longo do tempo.

Em cada ala, os figurantes devem usar uma fantasia que represente a Ala e podem portar Alegorias.

A ala pode ter uma coreografia própria, que é claro, não pode distoar da coreografia geral. A coreografia pode ditar a evolução e mostrar como a ala vai ocupar o espaço na avenida.

A escola pode inventar as Alas que quiser (que estejam relacionadas ao Tema) mas existe uma ala que é obrigatória que é a Ala das Baianas.

No desfile da Leandro, em 2005, as alas foram as seguintes:

1 - As Preciosidades da Terra

2 - A Dádiva de Deus

3 - O Verdadeiro Amor

4 - O Falso Amor

5 - O Falso Poder

6 - O Despertar de um Sonho

7 - Bateria - Os Guardiões do Mundo

8 - Passistas Guardiãs do Mundo

9 - Anjos Rotarianos

10 - Operários da Cidadania

11 - Baianas

12 - Milagre da Multiplicação

13 - Os Ideais de Paul Harris

14 - ROTARACT

15 - INTERACT

16 - Restauração do Planeta

17 - Chegada do Rotary ao Brasil

18 - Os Ideais da Educação

19 - Arlequim do Centenário

20 - Colombina da Paz

21 - Pierrot da Saúde

QUINTO PASSO: Os Carros Alegóricos e a Porta Bandeira.

Entre uma ala e outra, para quebrar o envolvimento ou para fazer a transição entre o motivo tratado na ala anterior e a próxima ala, intercala-se um espaço que pode ser preenchido pela evolução da um casal Porta-Bandeira e Mestre Sala.

Outro recurso usado para separar uma ala da outra é a colocação de um Carro-Alegórico. Na sua exuberância, na criatividade, nos movimentos e, principalmente, pelos DESTAQUES nele colocados, os Carros-Alegóricos arrancam aplausos e marcam pontos para a escola.

Toda a pesquisa realizada é posta sobre a mesa e a escola discute, trabalha, escolhe e aprimora cada Carro-Alegórico.

A criatividade fica nos movimentos de partes do carro. Um dragão, por exemplo, precisa expelir fogo. Uma ave deve "voar" e bater as asas. Uma cascata deve ter "água caindo".

Cada detalhe que é inventado e colocado no carro faz aumentar o peso do mesmo e quanto mais pesado ou quanto mais alto ou quanto mais largo, maior será a dificulcade de levar (transportar) o carro da quadra da escola de samba até o sambódromo e também de fazer a evolução do carro na passarela.

Quando é tem ou quando se dispõe de um carro motorizado, é facilitado o trabalho mas um carro com motor corre sempre o risco do motor não funcionar, do motor afogar durante o desfile.

O recurso mais empregado é o do Empurra, um grupo de componentes especialmente destacado para ficar empurrando, na mão, o carro alegórico.

Além disso, o carro

Ao mesmo tempo, a Bateria, o Mestre-Sala e Porta-Bandeira, a Comissão de Frente e demais grupos começam a ensaiar os passos e as coreografias.

SEXTO PASSO: Ganhar pontos no desfile.

Há itens que contam pontos no desfile. Nesses é preciso caprichar concentrando um grande esforço para inovar e causar um grande furor da torcida durante o desfile.

Fantasia: Podem estar relacionadas ou não ao enredo, ao Tema e devem ser bonitas, vistosas e devem permitir uma boa evolução da ala. Por exemplo, se a ala representam borboletas, a evolução deve representar o voar dessas borboletas.

Evolução: É a movimentação do desfilante dentro da Ala. O desfilante deve movimentar-se, individualmente e também segundo uma coreografica da ala e também segundo a coreografia geral da escola e essa movimentação deve ser feita com espontaneidade, com criatividade, bastante empolgados, com vibração, com leveza, agilidade e com muito vigor.

Melodia: É a interpretação musical do enredo. Todos os desfilantes da ala devem cantar (mexer a boca) o samba, conhecer bem a letra e gesticular de forma coerente com a letra.

Harmonia: É a combinação perfeita entre o ritmo (ditado pela Bateria) o campo representado pela Melodia e a dança representada pela Evolução.

Muito difícil manter uma Boa Harmonia. Os desfilantes, depois de aguardar por horas na Concentração, já esão ligeiramente cansados, alguns para enfrentar o frio da madrugada reforçam com alguns goles de aguardente.

Para vocês terem uma idéia, a Leandro de Itaquera estava programada para entrar na avenida à 5:00 horas da manhã, mas a Concentração teve início às 22:00 horas com as Alas enfileiradas na ordem e todos devidamente fantasiados. As pessoas têm necessidades fisiológicas, precisam comer, beber e também ir à toalete. Dependendo do tipo da fantasia, um simples xixi pode ser um ato bastante complicado pois algumas fantasias são montadas com cordinhas, ganchos e fivelas e depois de removidas não podem ser deixadas no chão, precisando de bancadas próprias para aguardar o retorno do figurante.

É por isso que cada Ala tem pelo menos 2 Diretores da Harmonia que dão suporte para todas essas necessidades que surgem durante a Concentração e principalmente as necessidade específicas que surgem (sapato que se quebram, fantasias que desmontam, etc.) durante o Desfile.

Alegoria: É o enfeite que o desfilante carrega nas mãos. Chama-se Alegoria de Mão. Dependendo do enredo, a alegoria deve ser segurada de determinada forma e em determinada posição e dependendo da coreografia a alegoria deve ser movimenta de determinada forma.

Comissão de Frente: É um grupo de pessoas que Abrem o desfile, cumprimenta o público e especialmente os Jurados que se postam ao longo da avenida.

Bateria: É a bateria que marca o ritmo, a cadência, a evolução e a harmonia do desfile. Seu som envolvente deve chegar a todos os desfilantes e também a todos os expectadores.

Uma das difuldades é que por questões da física, o som demora um certo tempo para percorrer, pelo ar, a distância entre o começo e o fim da passarela do samba. Como a velocidade do som é de 340 metros por segundo, numa passarela de 1.700 metros o som vai levar 5 segundos para ir do começo até o fim.

Com a modernidade, os desfiles passaram a contar om Alto-Falantes. Entretanto, quando este recurso foi empregado pela primeira vez foi um DESASTRE pois a eletrônica transmite o som na velocidade eletrônica e solta nos alto-falantes dispostos ao longo da passarela do desfile a música TODOS AO MESMO TEMPO enquanto que a música vindo pelo ar VEM DEPOIS gerando uma grande confusão no desfile pois os desfilantes não sabiam se cantavam ao ritmo que saía do alto-falante ou se cantavam ao ritmo que vinha pelo ar alguns segundos depois.

Depois, a tecnologia desenvolveu um ATRASO proporcional à distância de cada alto-falante até a Bateria de tal forma que o som emitido pelo alto-falante estivesse no mesmo ritmo do som que chega pelo ar.

Letra: É a composição musical; geralmente extraída de uma sinopse (síntese) do enredo, que vai representar a Escola, em forma de canto e ritmo na passarela. O carnavalesco e a comissão de carnaval preparam a sinopse do enredo e passem para ala de compositores. A eles caberá a difícil tarefa de criar a letra e a melodia do Samba Enredo.

Normalmente, são feitas nas quadras várias eliminatórias de Sambas Enredo, julgados pelos próprios componentes, determinando qual será o samba que representará a Escola nos desfiles.

Enredo (história): É a peça literária (tema Central) que, por meio de pesquisa, dá origem à montagem do Carnaval por uma Escola de Samba.

O Enredo é a base de tudo.
Dele são extraída a letra do samba, os figurinos, as alegorias, etc.

Mestre Sala e Porta Bandeira: A harmonia do par que, com graça, leveza e majestade deve apresentar uma seqüência de movimentos coordenador, onde fique evidencia a apresentação intergrada do casal, nesse sentido.O Mestre Sala deve desenvolver gestos e posturas elegantes e corteses que demonstrem reverência à sua dama (a Porta Bandeira );constitui deslize a ocorrência de formas bruscas, vulgares e grosseiras de comunicação verbal e/ou gestual do casal, que, em nenhum momento, pode-se chocar corporalmente

Ala das Baianas: É a ala obrigatória, aliás a única obrigatória.

Mais detalhes sobre os quesitos em .

SÉTIMO PASSO: O ENSAIO TÉCNICO.

Depois de meses e meses de ensaio, já no mês de janeiro, agenda-se ensaios no local do desfile. No caso de São Paulo, os desfiles oficiais de carnaval são realizados em diversos pontos da cidade. O local principal é o Sambódromo e situa-se no complexo Ambembi.

Algumas coreografias, principalmente aquelas que envolvem algum gesto de agradecimento, devem ser ensaiadas somente no local do desfile pois a disposição do público não é homogêneo ao longo da passarela e certos cumprimentos e agradecimentos deve levar em consideração a localização dos jurados.

Feitos os ensaios no próprio local do desfile, a Escola de Samba está pronta para o grande evento.

Mediante sorteio feito no carnaval anterior são determinadas a seqüência do desfile, isto é, a seqüência das escolas de sambas que irão desfilar.

OITAVO PASSO: A Concentração.

Em horário determinado, os componentes da Escola de Samba precisam estar reunidos em um local denominado CONCENTRAÇÃO, geralmente na cabeceira da pista de desfile.

É um momento que exige concentração, ordem e disciplina.

A sequencia das Alas, a formação de cada ala.

No meu caso, em função dos resultados obtidos ao longo dos ensaios, tinha que determinar a ordem dos desfilantes em cada fila. Obviamente, todos queriam vir nos primeiro lugares para aparecer melhor principalmente perante as câmeras da TV. Afinal, era esperado que mais de 500 milhões de pessoas, no mundo todo, assistindo o desfile.

É claro o desempenho individual, ritmo, animação, evolução e harmonia foram os quesitos mais importantes para esta seleção. Não é fácil contrariar egos.

Outra decisão difícil era determinar se a ala seria dividida em 4 filas ou 5 filas ou mais. O Sambódromo é largo e a ala deve preencher todo a largura da passarela. Mais filas preenchem melhor mas pode atrapalhar a evolução com um desfilante batendo nos outros durante a coreografia. Menos filas mostram melhor o desempenho individual na evolução, andamento e ritmo.

Tudo quanto é "veterano" e também os que se consideravam "donos" da escola passavam por lá e sugeriam um determinado número de filas. E todos "ameaçavam" dizendo que Harmonia dava Ponto.

NONO PASSO: O Desfile.

Qualquer atraso no início do desfile desconta pontos da escola. No caso do Sambódromo de São Paulo, há um portão de ferro que abre para a lateral e ao ser aberto inicia a contagem do tempo. Relógios enormes disposto ao longo da passarela indicam o tempo de desfile da escola.

Iniciado o desfile, membros coordenadores da escola determinam o ritmo do avanço, fazendo sinais para que as alas apressem ou diminuam a velocidade da marcha. Estes gestos são feitos para os Diretores de Alas que, por sua vez, interage com os componetes da Ala.

Ao longo do pista, JURADOS escolhidos pelos organizadores pontuam diversos quesitos da escola de samba.

A Escola de Samba tem uma certa duração para fazer o desfile. Havendo atrasos, haverá desconto de pontos.

DÉCIMO PASSO: A Dispersão.

O desfile termina em um local conhecido como DISPERSÃO.

Existe um outro portão que desliza depois que o último componente passar por lá. Logo que o portão é fechado cessa a contagem do tempo.

Na Dispersão é difícil frear o ímpeto pois a adrenalina ainda está a mil. Machucados, cansaço, nervosismo ainda não são sentido por causa da ação da adrenalina. Somente um tempo depois é que tudo desaba e é muito comum cair no chão de cansaço, de dor e também de alívio. Aquela apreensão que teve início às 20:00 horas com a pré-concentração feita na quadra da escola, no deslocamento por ônibus da Prefeitura até o Sambódromo, a Concentração e o Desfile cessa tudo e aí começa a dar câimbra e dor nos pés.

Transportar todos os desfilantes da quadra da escola até o sambódromo dá trabalho pois, por causa da fantasia que costuma ocupar muito espaço, não é possível transportar mais que 20 ou 30 pessoas num único ônibus. Imaginem quantos ônibus são necessários para levar todos os 3.000 integrantes.

 

RMW\4430\carnaval\montagem.htm em 23/11/2004, atualizado em 08/02/2016.