14 - GRAU DE RISCO

Como vimos, para dimensionarmos (calcular as dimensões) de uma obra, precisamos definir o Período Máximo de Retorno pois o tamanho da chuva aumenta proporcinalmente para Períodos de Retorno elevados.

Por exemplo, para um determinado local, a hidrologia nos indicou:

PERÍODOS DE RETORNO (anos)	INTENSIDADE DA CHUVA (mm/h)
2	136
5	143
10	151
50	165
100	170
1.000	183
10.000	194

Dependendo da "importância" da obra, podemos dimensioná-la para Períodos de Retorno pequenos. Um estábulo, por exemplo, não vale a pena dimensionar para períodos de retorno longos pois, para fugir à cheia de uma chuva de 194 mm/h, talvez tenhamos que construí-lo bem longe do rio, dificultando o transporte de água e a limpeza.

Adotar Período de Retorno de 2 anos significa que, em média, a cada 2 anos o estábulo será inundado pelas águas do rio. Obviamente, ao adotar um período de apenas 2 anos, teremos que dotar o estábulo e, talvez as pessoas, de dispositivos e recomendações para a remoção dos animais quando ocorrer chuvas maiores que 136 mm/h, o que deve acontecer uma vez a cada 2 anos.

Uma obra um pouco mais "importante" como uma ponte, por exemplo, que dá acesso a uma parte da fazenda, talvez pudesse ser projetada para um período de retorno de 10 anos. Segnifica que a cada 10 anos, em média, a ponte vai ficar submersa por algumas horas até as águas baixarem. Se não for a única ponte para acesso àquela parte, o alagamento não terá muita importância. O custo para a construção da ponte será bem menor e não vai precisar fazer fundações elevadas e nem rampas de acesso.

Agora, uma obra de grande importância como a barragem da Hidrelétrica de Itaipú, não pode ser projetada para períodos de retorno curtos. É adotado período de retorno de 10.000 anos, mais conhecido como Retorno Decamilenar.

O Reservatório de Detenção, popularmente conhecido como PISCINÃO, não é projetado para "guardar toda a água de uma chuva" pois seria um gasto imenso e desnecessário.

São projetados para funcionarem a cada 5 anos e apenas nos 10 minutos iniciais dessa chuva, quando corre a frente da cheia.  Depois dos 10 minutos a tempestade se amaina e vira uma chuva comum. Não é de se admirar, portanto, que ocorrem enchentes além da capacidade de um Piscinão em períodos além dos 5 anos.

Essa limitação do tamanho de um piscinão ocorre por que Piscinões são necessários em zonas bastante urbanizadas onde os danos causados por uma enchente são expressivos. Não tem muito sentido construir Piscinões no meio do mato. Sendo construido em zonas de alta concentração urbana, ficaria muito cara a desapropriação necessária para a construção de um Piscinão maior. Além do custo de desapropriação, devemos considerar o custo de não-uso pois naquela área, se não fosse o piscinão, poderia ser construído prédios residenciais.

Veja, por exemplo, a grande área ocupada pelo Piscinão Águas Espraiadas. Se fosse para ocupar esta área com prédios de apartamentos, daria para construir mais de 3.250 apartamentos, padrão CDHU. Numa cidade com enorme déficit habitacional (falta de moradias) é bastante discutível essa opção feita pela Prefeitura de destinar uma grande área para ser útil por apenas 10 minutos a cada 5 anos.

Esse "desperdício" de área urbana cara é compensado pela tentativa da Prefeitura de construir componentes de esporte e recreação, porém essa ocupação deve ser feita com extremo cuidado pois na chegada da tempestade de projeto, em apenas 10 minutos o piscinão fica totalmente cheio. Se alguém tropeçar na hora que estiver fugindo da cheia, provavelmente será engulido pela enxurrada.