O tráfego de veículos pelas vias:

ACIDENTE NA ROTA DO SOL em 23.12.2017

acessar com www.ebanataw.com.br/acidentenarotadosol

O engenheiro Roberto Massaru Watanabe levantou os dados sobre a rodovia Rota do Sol onde ocorreu um acidente, felizmente sem vítimas, com a carreta da famosa caminhoneira Sheila Marchiori mais conhecida como Sheila Bellaver e resolveu fazer alguns comentários técnicos sobre as condições, do trecho da rodovia, que contribuem para a ocorrência de acidentes. Veja a Sheila Bellaver com o seu também famoso Scania Rosa R-440:

 

Para quem não conhece o professor Watanabe, ele é engenheiro e participou do projeto do Rodo-Anel (em 1969) e do projeto da Rodovia dos Imigrantes (em 1972) e tem denunciado casos em que a rodovia, mal projetada, mal construída ou mal conservada contribui agravando mais o acidente e, às vezes, é a principal causa do acidente.

A rota do sol é um rodovia sob cuidados do Estado do Rio Grande do Sul, mais precisamente do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem cuja sede, instalada em magnífico prédio, fica na avenida Borges de Medeiros número 1.555 na praia de Belas na capital Porto Alegre:

No site do DAER encontramos os dados técnicos da rodovia Rota do Sol e da ponte onde ocorreu o acidente:

Nome da Rodovia: ERS-0122

Código SER da rodovia: 122ERS0110

Tipo da OAE Obra de Arte Especial: PONTE

Nome: TEGA

Descrição: ARROIO TEGA

Código da OAE: 0606

Classe da OAE: 45

Corede: 16-SERRA

Região Funcional: 3

Localização na rodovia: KM 73,74

Extensão: 250,00 metros

Largura Total: 9,70 metros

Largura da Pista: 8,30 metros

Número de Faixas de Rolamento: 2

Material da OAE: CONCRETO

Administração da OAE: ESTADUAL-DAER

Circunscrição: SR de BENTO GONÇALVES

 

Veja uma foto aérea da ponte, que fica na Rota do Sol, passa sobre o Arroio Tega onde existe uma moderna estação de tratamento de esgotos.

O Arroio Tega tem seu nascedouro no vertedouro da represa do Jardim Botânico de Caxias do Sul e despágua no rio das Antas. Veja imagens do vertedouro e do reservatório:

O trecho que foi estudado vai desde o km 70+300 que é um ponto alto próximo e logo depoiso do Posto da BR até o km 73+740 onde começa a ponte sobre o Arroio Tega. Veja as partes que compõem o trecho estudado:

 

Veja a ponte, devidamente sinalizada com indicação da sua existência, extensão e capacidade máxima de carga:

 

No início do trecho estudado, km 70+300m, a elevação do local é de 2.194 metros (altitude medida a partir do nível do mar) e no trecho final, junto à cabeceira da ponte. km 73+740m,  é de 1.902 metros. Há portanto, um desnível de 2.194 - 1.902 = 292 metros de altura e a distância entre os dois pontos é de 70.300 - 73.740 = 3.440 metros.

A descida desses 292 metros não é íngreme sendo aparentemente muito suave. Tanto é que os motoristas nem se preocupam em ligar o Freio do Motor.

Acontece que a medida da DECLIVIDADE do trecho = 292 / 3.440 = 8,49% é, tecnicamente falando, uma declividade CRÍTICA muito acima do limite.

A norma para Projeto de Rodovias do DNIT Departamento de Infraestrutura de Transportes do Ministério dos Transportes do Governo Federal, determina que rodovias com o volume de tráfego como a Rota do Sol pode ter uma declividade máxima de 3,5% em regiões onduladas como é o trecho da Rota do Sol estudado. Alguns engenheiros podem até entender que a Rota do Sol está situada numa região montanhosa e que a declividade máxima permitida pelo DNIT seria de 6,5%. Mesmo assim, a declividade média de 8,49% é alta e requer que o caminhão esteja em condições técnicas para enfrentar.


Oque significa a CLASSE de uma rodovia?

A forma das placas identifica quem é que cuida da rodovia. Veja as formas:

A CLASSE define os parâmetros que a engenharia usa para calcular a espessura do pavimento, o raio mínimo de curvatura, o gabarito, o peso que os viadutos e pontes precisam aguentar e todos demais fatores que dão segurança aos veículos que nela trafegam.

Assim, quando o responsável pela rodovia pede que o engenheiro faça o projeto de uma rodovia, ele informa qual será a CLASSE da rodovia e um dos parâmetros que a classe determina é o peso máximo do Trem-Tipo (a gente chama de trem-tipo pois este critério de dimensionamento foi elaborado para a calcular a resistência de pontes onde passa trem de carga. Veja, por exemplo, como é o trem-tipo para a Classe 36:

Para evitar que um caminhão muito pesado DERRUBE a ponte, o responsável é obrigado a colocar uma placa indicando o limite que a ponte aguenta e a norma do DNIT define a cor, o tamanho das letras e até o tamanho das placas. Veja um exemplo:

Uma ponte inicialmente calculada para o Tipo 36 pode ser REFORÇADA, numa obra de reforma, e passar para a Classe 45 que tem o trem tipo seguinte:

Então a placa pode ser mudada para informar que o peso máximo que a ponte aguenta é, agora maior, isto é, suporta bem veículos com até 45 toneladas de peso total:

Vejam mais detalhes sobre Classes de Rodovia clicando em .

É mais ou menos lógico que quando o governo autoriza, por resolução de um órgão federal como o CONTRAN, a trafegar pelas vias brasileiras caminhões com pesos grandes como:

a

o governo precisa avisar o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes de que as vias brasileiras PRECISAM ser adaptadas com reforços ou reformas ou reconstruções para que o veículo que ele mesmo licenciou possa trafegar COM SEGURANÇA nas vias brasileiras.

Vejamos outros importantes componentes de segurança obrigatórios numa rodovia:

 

LINHAS:

As linhas demarcadas no piso fazem importantes indicações de segurança. Veja quais são clicando na figura ou clicando em .

Quando estas linhas estão meio que apagadas, não é possível ver onde começa e onde acaba a faixa de rolamento e, de noite, é bem provável eu invadir, sem querer, a faixa contrária:

As linhas de segurança devem ser feitas com uma película plástica que é aplicada a quente e possui uma espessura suficiente para aguentar muitos anos, sendo desgastadas aos poucos pela passagem dos veículos. Não é uma "pintura" e não pode ser feita com tinta e nem pode ser feita à mão. Além do mais a película deve ser luminiscente, isto é, deve brilhar com a incidência do facho de luz do farol do veículo e o contratante deve verificar se a película é realmente luminiscente medindo a reflectância com o aparelho portátil Retrorrefletômetro. Veja mais detalhes clicando numa das fotos ou clicando aqui .

A Lei Federal n0 9.503 determina que "Art. 88. Nenhuma via pavimentada poderá ser entregue após sua construção, ou reaberta ao trânsito após a realização de obras ou de manutenção, enquanto não estiver devidamente sinalizada, vertical e horizontalmente, de forma a garantir as condições adequadas de segurança na circulação."

Como existe a Lei e a não obediência à esta lei ocasiona riscos para a população como um todo, é possível registrar uma DENÚNCIA no Ministério Público. Qualquer pessoa pode fazer a denúncia.

GUIAS e DEFENSAS:

As guias de concreto e as barreiras de concreto (defensas) são importante componentes de segurança que evitam que o motorista que esteja distraído saia da faixa de rolamento de modo que em trechos segregados ou nas vias urbanas as Guias realizam o efeito corretivo devolvendo o veículo para dentro da faixa. Veja mais detalhes sobre DEFENSAS clicando na figura ou clicando aqui .

Em locais à beira de barrancos e de precipícios é OBRIGATÓRIA a existencia de BARREIRAS DE CONCRETO bem chumbadas na pista e capaz de segurar um veículo, mesmo que pesado, devolvê-lo para dentro da pista e evitar que o veículo saia rolando pela ribanceira:

    

Logo que a construtora terminar a construção da Barreira de Concreto (defensa) a contratante deve realizar um Ensaio de Resistência conforme as prescrições da norma brasileira NBR-7188 e só depois que o ensaio aprovar é que pode ser feito o pagamento dos serviços. Muitos contratantes, acreditando na boa-fé da construtora efetua o pagamento antes mesmo de construir a barreira, isso é um erro. Por segurança, o contratante deve arquivar em local seguro os Laudos dos Ensaios de Resistência para mostrar quando o Ministério Público pedir.

E, para aguentar o tranco, além de ter uma altura boa para o veículo pesado não passar por cima dela, precisa estar firmemente chumbada na via:

   

Veja mais detalhes sobre a segurança que a Barreira de Concreto deve oferecer clicando aqui .

GUARDA-CORPO:

O guarda-corpo, também conhecido como GRADIL, é uma proteção para PEDESTRES:

g

CERCA METÁLICA OU Guard-Rail:

Em regiões rurais onde há criação de animais de porte ou em regiões florestais onde vivem animais de porte como onças, antas e capivaras é importante proteger a estrada para que esses animais não venham a invadir a estrada colocando em risco a vida dos motoristas. Essa preocupação existe principalmente em viagens noturnas onde pode aparecer, repentinamente, algum animal atravessando ou parado na pista. Veja mais detalhes clicando na figura ou clicando aqui .

 

A cerca metálica deve ser instalada em local seguro, longe da faixa de rolamento, para evitar que um veículo desgovernado atinja a cerca pois a cerca, sendo metálica e comprida, vai agir como uma faca e cortar o veículo ao meio. Veja uma exemplo:

n

Na foto da placa há uma indicação que a ponte é de CLASSE 36. Isto significa que quando passa pela ponte um veículo que pesa até 36 toneladas a ponte aguenta normalmente e quando o motorista está conduzindo uma carreta com peso total acima de 36 toneladas é melhor ele voltar e escolher um outro caminho pois há risco ao passar por aquela ponte.

 


VOLTANDO À VACA FRIA:

Estávamos dizendo que o trecho entre o km 70+300m e o km 73+740m tem uma extensão de 3.440 metros e uma diferença de altitude de 292 metros o que resulta numa declividade de 8,49%, bem acima da declividade máxima permitida pelo DNIT que é de 3,5% para rodovias como a Rota do Sol. Só que o trecho engana o motorista por que a descida não é constante e há trechos meio plano e trecho meio subida dando a entender que se trata de um trecho ondulado comum. Só que tem mais descida do que subida então o FREIO É USADO COM FREQUÊNCIA, esquentando lonas e pastilhas e quando chega na curva antes da ponte é capaz que o veículo não tenha mais freio operacional caso precise frear.

O certo e seguro é ativar o FREIO DO MOTOR no km 70+300, um pouco depois do Posto BR. Então, o responsável pela Segurança da Rodovia, DEVERIA colocar uma placas de ADVERTÊNCIA.

Na sua opinião, qual dessas placas é que deveria ser colocada a cada 500 metros para alertar o motorista sobre o risco de queimar a lona/pastilha do freio?

 

Mas, imaginando que o motorista não prestou atenção aos avisos e andou no trecho usando o freia de vez em quando, ele vai chegar na entrada da ponte com as lonas quentes e o freio não vai funcionar. Imagine que ele precise frear mas o freio não vai funcionar. Então, a Barreira de Concreto deveria fazer a sua parte e evitar que o veículo saia da pista MAS no local, embora tenha Barreira de Concreto há 2 erros que vou apresentar:

PRIMEIRO ERRO: Não há CONTINUIDADE nas barreiras. A barreira antes da ponte termina do guarda-corpo e não na barreira sobre a ponte:

 

SEGUNDO ERRO: A barreira de concreto sobre a ponte é muito baixa e deixa a roda do veículo passar por cima dela.

 Veja algumas fotos do acidente e conclua você mesmo que caso a rodovia e seus componentes de segurança estivessem em ordem, talvez, o episódio não passaria de um grande susto e a viagem continuaria normalmente como se nada tivesse acontecido.

 

O componente de segurança denominado Barreira de Concreto, ou DEFENSA como também é conhecida, é a peça que calculada por um engenheiro com especialidade em estruturas de concreto vai dimensionar a altura mínima para a roda não passar por cima e a armadura de aço necessária para aguentar o tranco de um caminhão carregado e, desse modo, segurar (por isso chama-se componente de segurança) a carreta desgovernada impedindo a sua queda no precipício e além disso, vai devolver a carreta para a faixa de tráfego, onde o motorista poderá retomar o controle do veículo. 

Veja mais detalhes sobre Barreiras de Concreto em .

COLEGAS MOTORISTAS:

Os governos (municipal, estadual e federal) cobram impostos caríssimos com a desculpa de fazer a manutenção das estradas para oferecer segurança para quem nelas trafegam mas o dinheiro nem sempre é aplicado com esta finalidade e é comum encontrarmos estradas e trechos de estradas sem a manutenção adequada. Além disso, parte dos servidoes são meros apaniguados políticos, vulgo puxa-sacos, que tendo ajudado o político a se eleger recebem, como prêmio, belos cargos muito bem remunerados, se bem que, por pouco tempo para dar chance aos demais que ajudaram na campanha, mas são pessoas que costuma não ter nenhuma formação em segurança em vias carroçáveis de modo que nem adianta tentar discutir com eles os fatores que contribuíram para a ocorrência do acidente.

 

O autor deste site é engenheiro formado pela USP e trabalhou no projeto de rodovias importantes como a Rodovia dos Imigrantes e procura mostrar que nem sempre A CULPA É DO MOTORISTA e, portanto, ele não tem que ficar aguentando a bronca sozinho, pois a falta de sinalização adequada e a existência de fatores críticos como curva fechada, inclinação ao contrário da pista e outras falhas do engenheiro que fez o projeto e a construção da estrada são os principais fatores que induzem ao acidente. Um advogado com experiência em Responsabilidade Civil poderá mover um ação contra o órgão responsável pelo tráfego naquel trecho onde ocorreu o acidente. A ação pode ser diretamente numa Vara Cível da comarca onde ocorreu o acidente ou pela via do Ministério Público que vai abrir uma ação na Justiça ou abrir um inquérito próprio que envolvendo os órgãos compententes, seja ele o governo municipal, estadual ou federal e as empresas concessionárias

Infelizmente, as escolas de engenharia nem sempre ministram cursos completos na área de estradas e vias carroçáveis de modo que o profissional da engenharia que poderia exercer papel fundamental na demonstração do nexo-causal não consegue, mesmo com muita boa vontade, a efetividade desejada num processo judicial. Este site, embora não possa ser usado diretamente numa ação na Justiça brasileira, serve como exemplo dos aspectos técnicos elencáveis numa ação.

 

Veja outros casos de enrosco rodoviário em

 

NOTA: Este site é mantido pela equipe do engenheiro Roberto Massaru Watanabe e se destina principalmente para estudantes. Pelo caráter pedagógico do site, seu conteúdo pode ser livremente copiado, impresso e distribuido. Só não pode piratear, isto é, copiar e depois divulgar como se fosse de sua autoria.


ET-10\RMW\trafegando\AcidenteERS-122\acidente.htm em 01/08/2020, atualizado em 03/01/2021 .