CONTENÇÃO DE TERRA

ALÍVIO DE TENSÕES DO SOLO

6.a

O terreno natural é formado pela metamorfose, isto é, transformações dos materiais magmáticos através da ação das intempéries e do meteorismo que produzem transformações físicas e químicas dos componentes do solo.

Transformações

Todas essas transformações produzem o adensamento do terreno e cada partícula estará sob a ação de forças provenienes do peso de terra acima da partícula e também da pressão hidrostática da água do lençol freático.

Tensões

Quanto mais fundo maior será a pressão que atua nas partículas do solo.

De uma forma esquemática, podemos dizer que a pressão sobre as partículas é nula (igual a zero) na superfície do terreno e vai aumentando gradativamente com a profundidade. Quanto mais fundo maior serão as forças sobre a partícula.

O que acontece com o terreno quando cortamos e removemos uma parte da terra?

Uma parte das forças é eliminada (setas azuis). As partículas ficam sob pressáo em apenas um dos lados (setas vermelhas). Essas forças precisam ser equilibradas com uma nova configuração de forças.

Dependendo de um parâmetro denominado COESÃO, próprio de cada tipo de solo, o desbarrancamento pode ser "instantâneo" e ocorrer alguns dias depois que o corte foi feito ou pode ser do tipo "lento" vindo a ocorrer após muitos anos depois. Há casos de taludes que desbarrancaram 10 anos depois que o corte foi feito.

Essa história de que "se não caiu até hoje não cai mais" é lenda e não se deve acreditar.

Caso 1 - Novo equilíbrio do talude em solos com baixa coesão. O desbarrancamento é "imediato".

A areia é um material com coesão zero.

Caso 2 - Novo equilíbrio do talude em solos com alta coesão - Etapa 1:

Numa primeira etapa, a coesão consegue "segurar" o talude, evitando a sua queda. Mas surgem trincas verticais na parte de cima do talude e, em cada chuva, as trincas irão aumentando, isto é, surgem novas trincas e as existentes penetram mais fundo no terreno.

Caso 2 - Novo equilíbro do talude em solos com alta coesão - Etapa 2:

Com novas chuvas, o terreno vai perdendo a coesão até que o talude cai. Isso pode levar alguns anos para acontecer.

Qualquer terreno com declividade maior que 30% está sujeito a processos geológicos de escorregamento, desbarrancamento ou deslizamento. Veja mais detalhes em

 

COMO EVITAR A QUEDA DO TALUDE:

Uma das alternativas é construir uma estrutura para arrimar (apoiar, segurar, escorar, encostar). Esta estrutura chama-se Muro de Arrimo (não confundir com Muro de Contenção que é para outra finalidade).

Observe que a simples construção do Muro de Arrimo, não cria as forças para equilibrar as tensões que atuam no seio do solo.

Para que o muro comece a reagir e consiga criar uma força oposta, será necessário que o terreno sofra um recalque (afunde um pouco) até encostar, com força, no muro recém construído:

Com o recalque, o nível do terreno ficará ligeiramente afundado e inclinado. Árvores ficarão inclinadas.

Não havendo casas na parte de cima do terreno, este recalque não irá causar danos. Apenas as árvores ficarão ligeiramente inclinadas.

PROBLEMA: 

Mas, havendo casa na parte de cima, ela írá sofrer um recalque e este recalque, pequeno que seja, produzirá trincas em diversos locais da casa, nas paredes e também no teto e no piso. O sintoma mais alarmante são as trincas que surgem nos pisos que estão em contato direto com o solo.

Então, nestes casos em que há casas na parte de cima, construir um Muro de Arrimo não é, definitivamente, uma boa solução, principalmente em zonas urbanas que têm edifícios, casas e sobrados em tudo quanto é lado.

RECOMENDAÇÃO-1: Se você é o dono da construtora, deve contratar uma Vistoria de Constatação. É uma vistoria técnica especial onde se registra (em papel e em cartório) todos os problemas já existentes no imóvel vizinho. O perito "constata" a existência dos problemas. Seu laudo vai ser fartamente ilustrado com fotografias das trincas, manchas de umidade e outros problemas existentes antes do início das obras.

RECOMENDAÇÃO-2: Se você é o proprietário da casa de cima, deve contratar uma Vistoria Cautelar. É uma vitoria técnica para "constatar" o que ainda não existe mas pode vir a existir. É a cautela, a prevenção, é a desconfiança de que pode vir a existir. O perito "constata" que "não existe ainda" uma trinca numa parede. Seu laudo vai ser fartamente ilustrado com fotografias de paredes, tetos e pisos que não têm nenhuma trinca, nenhuma mancha de umidade, enfim, nenhum problema.

O registro do laudo em cartório de registro de documentos é importante para "provar" que a vistoria e laudo foram elaborados em determinada data. Dependendo do laudo, o custo do registro em cartório vai ficar mais caro que o custo do perito para fazer a vistoria e confeccionar o laudo pois os cartórios cobram "por folha" microfilmada.

Se os problemas já começaram a acontecer, então providencie de imediato um Boletim de Ocorrência Policial para a preservação dos seus direitos civis à vista de risco de danos, com perdas, ao seu patrimônio.

NOTA IMPORTANTE: Os casos acima possuem abordagem precisa no Código Civil Brasileiro: "Art. 1.311 - Não é permitida a execução de qualquer obra ou serviço suscetível de provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou que comprometa a segurança do prédio vizinho, senão após haverem sido feitas as obras acautelatórias.".

Para qualquer orientação ou encaminhamento sobre questões relativas a Direito de Vizinhança ou Responsabilidade Civil, recomendamos consultar um Profissional de Direito.

 

COMO SEGURAR TALUDES DE CORTES EM ZONAS URBANAS:

Em zonas urbanas, com prédios, casas e sobrados na parte de cima do talude, a estrutura ideal para a sustentação do talude que será formado pelo corte no terreno é um componente estrutural conhecido como Parede-Diafragma.

A construção de uma parede-diafragma é feita em etapas tomando-se muitos cuidados em cada etapa para que as condições geológicas existentes no solo não sejam afetadas, causando danos aos imóveis vizinhos.

Até o fenômeno do lençol freático raso que por meio do empuxo hidrostático mantém as casas não é afetado. Algumas técnicas construtivas não mexem no lençol freático e não precisam que o lençol freático seja rebaixado.

Como amplamente noticiado pela imprensa, o rebaixamento do lençol freático é extremamente danoso em certas regiões como o bairro de Moema em São Paulo.

A seguir, apresentamos um roteiro que não é, e nem poderia ser, uma cartilha para a construção de uma parede-diafragma, mas serve como alerta para proprietários de casas e síndicos de prédios que já existem e estão localizados em partes altas em que uma construtora vai construir um grande prédio no terreno vizinho.

O roteiro é bem detalhado para que o proprietário ou o síndico "fique esperto" e não seja ludibriado por algum "representante" da construtora que venha com aquela "conversa mole" do tipo "fique tranquilo que todo problema causado pela construção será imediatamente consertado pela construtora". Também não é suficiente a "grife" da construtora pois, nos dias de hoje, é muito comum a "construtora" terceirizar alguns serviços na obra, procurando "fugir" das obrigações trabalhistas e também das obrigações de responsabilidade técnica.

ETAPA 1 - ESCAVAÇÃO:

Nesta etapa, um dispositivo próprio dotado de garras de acionamento hidráulico, conhecido como Clamshell, suspenso por um guindaste, escava o solo abrindo uma valeta bem estreita (30 a 60 centímetros) e em todo o comprimento da parede-diafragma.

Ao mesmo tempo em que é feita a escavação, coloca-se na vala uma lama feita de bentonita que é um mineral com propriedades tixotrópicas que é dosada para ter a mesma densidade do material que é retirado da vala. Tendo a mesma densidade, a lama bentonítica exerce sobre as paredes da valeta a mesma pressão que o solo já exercia. Sendo tixotrópica, essa lama não "desanda" e permanece ativa mesmo à noite quando o trabalho de escavação é interrompido. Para garantir a tixotropia necessária, calcular a dosagem certa da lama e fiscalizar o seu preparo todas as tarefas devem ser feitas por profissional experiente.

ETAPA 2 - ARMAÇÃO:

Terminada toda a escavação, a lama bentonítica deve ser substituída por uma nova pois o processo de escavação e remoção da terra deixa a lama bem "suja" e imprópria para a fase concretagem.

A armadura da parede-diafragma é calculada para o tamanho da parede. Quanto mais alta a parede mais ferros e ferros mais grossos são empregados. Não sendo possível montar a armadura dentro da valeta, ela é toda montada fora, parecendo uma gaiola, e colocada no lugar pelo guindaste. De tanto em tanto são colocados roletes-espaçadores que exercem dupla função de ajudar a deslizar a gaiola até chegar no fundo e depois, na fase de concretagem, garantem um espaço entre a parede da valeta e a armadura, denominado cobrimento, para que a água e a umidade do solo não atinja a armadura causando sua deterioração.

ETAPA 3 - CONCRETAGEM:

O concreto não pode misturar com a lama de bentonita. Então é utilizada uma técnica de concretagem denominada como "concretagem submersa". Para não se misturar com a lama, o concreto é introduzido por um funil e um tubo leva o concreto até o fundo da valeta.

O concreto é bem fluído (bem líquido) e ao chegar ao fundo da valeta ele se esparrama ocupando todos os espaços. Isso é feito com cuidado, sem agitar muito, e o concreto sendo bem mais denso (pesado) que a lama vai empurrando a lama para cima.

A concretagem termina quando a superfície superior da camada de concreto chega na boca da valeta. Ainda se remove parte deste concreto que vem misturado com um pouco de lama de bentonita.

ETAPA 4 - CURA:

A cura é o tempo necessário para o concreto adquirir uma certa resistência,  ficar duro para aguentar a força de protensão que será aplicada nos tirantes. Em condições normais, o concreto precisa de pelo menos 21 dias para a cura.

Algumas construtoras, com a pressa ou com o cronograma apertado seguem com os trabalhos sem  esperar todo o tempo da cura. Esta parede vai dar muito problema no futuro com infiltrações e água fedida (de esgoto) escoando pelas paredes, quando não acontece algo pior como a entrada da enxurrada da chuva causando a inundação da garagem.

Aditivos próprios, denominados aceleradores de cura, ajudam a diminuir a duração da cura para alguns dias.

ETAPA 5 - ESCAVAÇÃO DOS TIRANTES:

Primeiramente, abre-se poços de trabalho. É como se fosse um poço de água. Cava-se manualmente com o auxílio de picaretas, enxadas e pás. Trabalhadores devem usar EPIs, os poços devem ser bem ventilados e o transporte vertical deve ser feito por equipamentos de içamento próprios dotados de travas de segurança.

A distância entre um poço e outro é determinada a partir do cálculo de protensão dos tirantes. Não é possível a abertura de muitos poços pois um grande espaço deve ser deixado, entre um poço e outro, para manter o estado de tensões no solo.

O espaço no interior do poço deve ser suficiente para que um trabalhador consiga manusear os equipamentos de perfuração e, depois, de protender os cabos do tirante.

O ângulo de penetração e a profundidade de cada tirante é calculado pelo geotécnico baseando-se no perfil de sondagem geológica do local.

A parte final do tirante é denominada bulbo de ancoragem e deve ficar localizado em solo firme, longe da superfície de escorregamento natural do talude.

Como é um item que "fica enterrado", a empreiteira desonesta poderá "concluir" quando ainda faltam muitos metros. Por isso, a escavação e a perfuração deve ser acompanhada, de perto, por um fiscal que conheça bem o serviço.

ETAPA 6 - PROTENSÃO DOS TIRANTES:

Os tirantes são barras de aço ou cordoalhas de fios de aço presos, de um lado com um bulbo de ancoragem no interior de uma camada de solo bem resistente e do outro por uma aparelho de apoio.

Veja mais detalhes em

Esses cabos são protendidos, isto é, puxados com forças grandes, 2.000 ~ 10.000 kgf e presos em dispositivos próprios de modo que permanecem esticados por toda a vida. É como um elastico que prende um maço de dinheiro.

Então, esses cabos não podem enferrujar. Como ficam "enterrados", isto é, dentro da terra, precisam receber uma proteção adequada para não serem atacados pela água do lençol ou umidade do solo.

Algumas empreiteiras relaxadas não gerenciam bem esta fase o que resulta numa obra que em vez de durar os 50 anos previstos no projeto, duram apenas alguns anos e vem abaixo por que os cabos foram totalmente oxidados.

Com todos os tirantes devidamente instalados, o talude recebe, através da parede-diafragma, o mesmo esforço desenvolvido pelo solo. Os esforços se equilibram. O corte no terreno já pode ser realizado em riscos de desmoronamento do talude.

ETAPA 7 - CONFECÇÃO DO CORTE:

Agora que o talude já está sustentado (arrimado) pela parede-diafragma, o corte do terreno pode ser feito. Prepare os caminhões-pipa para lavar a rua depois que os caminhões sujarem as ruas espalhando terra e poeira vermelha.

Veja o que ocorre quando a água da chuva cai sobre um Talude -

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RMW\terrapleno\alivio.htm em 08/02/2013, atualizado em 10/12/2023.

    RMW-34829-03/12/2024